Reflexões sobre a Existência Divina: Uma Análise do Debate entre Teísmo e Crítica Bíblica
O debate sobre a existência de Deus é uma discussão milenar que permanece no epicentro da história humana, conforme observado pelos participantes do recente episódio do Redcast. O embate colocou em discussão visões de mundo profundamente divergentes, que se estenderam desde os argumentos cosmológicos e filosóficos até a análise crítica da autoridade bíblica e da moralidade.
O Contexto e a Natureza da Discussão
O debate, originalmente proposto sob a ótica de "Deus existe", contou com a participação do Pastor Tassos Licurgo, defensor da fé cristã, e dois críticos: Chileno Gomes, professor de filosofia e ateu declarado, e Fábio Sabino, que se posicionou como crítico bíblico, hermeneuta e exegeta, esclarecendo que não é ateu, mas sim lida com a interpretação de texto e não com fé ou crença.
Chileno definiu o ateísmo (do grego a- negação e teísmo fé em Deus) como a mera negação da evidência de Deus, não sendo uma afirmação positiva e, portanto, não pressupondo uma moral ou ética ateísta específica. Já o Pastor Tassos argumentou que o ateísmo é, sim, uma visão de mundo com um sério comprometimento, frequentemente com o materialismo, embora existam ateísmos não materialistas, como o budismo.
A Busca por uma Causa Causal: Cosmologia e Ajuste Fino
Um ponto central na defesa da existência de Deus foi o uso da Teologia Natural (Deus se revela pela natureza e pelas coisas criadas) e o argumento cosmológico. Tassos Licurgo baseou-se na cosmologia contemporânea, que sugere que o universo veio a existir, criando o espaço, a matéria e o tempo. A conclusão lógica desse argumento é que a causa do universo deve ser não espacial (infinita), atemporal e imaterial.
O contraponto a essa tese foi feito por Chileno, ele questionou a premissa de que a matéria foi criada do nada, lembrando que um dos princípios básicos da física é que a matéria não se destrói nem se cria, apenas se transforma, sugerindo que a matéria poderia ter sempre existido (condensada ou não). Além disso, a ideia de que essa causa deve ser infinita foi atacada pelo crítico bíblico Sabino e pelo filósofo Chileno. Chileno citou o Deus panteísta de Baruch Spinoza, que, por ser infinito, implica que todos os seres finitos fariam parte d'Ele, o que contradiz o Deus cristão, que é transcendente. Tassos defendeu que dois seres infinitos seriam indistinguíveis e, portanto, logicamente, só pode haver um Deus.
Outro argumento apresentado foi o do ajuste fino (fine-tuning), que se refere às condições milimetricamente sintonizadas do universo essenciais para a existência da vida, citando 122 características (como a concentração de oxigênio e a velocidade de expansão do universo). Segundo Tassos, a probabilidade de essas condições terem sido satisfeitas por acaso é de 1 em $10^{138}$, o que é um sem número de vezes impossível, conforme o princípio de Borel na matemática.
Chileno rebateu, classificando essa conclusão como uma falácia da ignorância: o fato de a ciência não saber a origem do universo não pressupõe um criador ou design inteligente. Ele argumentou que a evolução e a adaptação explicam que "só existe o que pode ser", e que as condições da Terra foram levando à vida — a vida é vista como um acidente cosmológico, e não que as condições foram ajustadas para que ela existisse.
Críticas à Autoridade Bíblica e o Problema do Mal
O crítico bíblico Fábio Sabino concentrou-se na incoerência do Deus bíblico, especialmente ao confrontar a ideia de um Deus que se revela nas escrituras. Sabino questionou a confiabilidade dos textos, mencionando que a Bíblia tem apenas "cópias das cópias das cópias", e que os evangelhos são textos anônimos atribuídos a escritores posteriormente. Ele apontou o fato de a Bíblia, por pretender ser a palavra de Deus, conter inúmeras contradições.
O dilema do mal (ou paradoxo de Epicuro), levantado por Chileno, questiona por que, se Deus é todo-bom, todo-poderoso, onisciente e onipresente, ainda existe tanta maldade na história da humanidade.
O argumento teológico padrão é o do livre arbítrio, dado por Deus para que os humanos escolham livremente entre o justo e o injusto. Tassos defendeu que a possibilidade do erro é um pressuposto lógico do "máximo ético possível, que é o amor".
No entanto, os críticos refutaram essa ideia. Sabino argumentou que a Bíblia não sustenta o livre arbítrio, citando exemplos de punição e intervenção divina (como o Dilúvio ou a esposa de Ló transformada em sal), o que anula a liberdade de escolha. Chileno adicionou a crítica moral, questionando por que um Deus de amor interferiu na história da Bíblia, mas não interfere hoje para salvar uma criança do estupro. Sabino concluiu que, se o que é bom é atribuído a Deus, o que é ruim deve ser também, e que o Deus da Bíblia parece existir "só nas páginas dela".
A Origem Humana das Divindades
Chileno e Sabino concordaram que a criação de Deus é uma necessidade humana, um produto da mente. Chileno argumentou que a necessidade de debater Deus é fisiológica, impulsionada pelo lóbulo frontal desenvolvido do ser humano, que busca responder a tudo. Deus se torna o $X$ da equação, a resposta para o que a humanidade ainda não consegue explicar. Ele citou Ludwig Feuerbach, que postulou que nós criamos Deus à nossa imagem e semelhança para ser o suprassumo de tudo que gostaríamos de ser e não somos (amor, justiça, etc.).
Para Chileno, quem tem fé possui um sentido ou propósito na vida (logoterapia), o que é invejável, pois oferece esperança e perspectiva, especialmente diante da finitude da vida.
Em última análise, o debate ressaltou a dificuldade de encontrar um consenso definitivo na questão da existência de Deus, já que os argumentos se baseiam em premissas (sejam elas científicas, filosóficas ou teológicas) que, em si mesmas, são complexas e passíveis de interpretação e questionamento. O esforço intelectual, no entanto, é valorizado como uma forma de treinar a capacidade argumentativa e expor ideias para aqueles que têm dúvidas reais, sejam eles teístas ou ateus.
Minha opinião:
Quanta arrogância da parte de todos os participantes... principalmente desse Fábio Sabino. Se o tema do debate é "DEUS EXISTE?" Mas o cara diz que não é ateu, e também diz que não é cristão mas quer usar versículos da Bíblia para debater 'de forma contextual"?? Tudo bem que ele é crítico bíblico e exegeta, mas dentro desse tema não faz sentido! porque daí teria que ser um tema dentro do âmbito da teologia, e se for neste âmbito, já parte do pressuposto da Existência de Deus. Entenderam porque o Tassos "fugiu" das perguntas do Fábio?
Alex Rudson