A Arte da Guerra de Sun Tzu

 


A Sabedoria Perene da Estratégia: Reflexões sobre A Arte da Guerra de Sun Tzu

O clássico chinês A Arte da Guerra, escrito há 2.500 anos pelo general Sun Tzu, transcende o tempo e as fronteiras culturais, sendo considerado o melhor livro de estratégia de todos os tempos. Sua influência não se limitou a figuras históricas militares como Napoleão, mas se estendeu a pensadores como Maquiavel e Mao Tsé-Tung. Mais do que um manual de táticas de combate, a obra é um tratado que ensina a aplicar o conhecimento da natureza humana em momentos de confronto.

O valor duradouro desta obra reside em sua filosofia profundamente estratégica, cujos conceitos são hoje aplicados em negócios, esportes, diplomacia e até mesmo no comportamento pessoal. Muitas frases-chave de manuais modernos de gestão empresarial são citações literais do general, trocando frequentemente a palavra "exército" por "empresa".

A Supremacia da Não-Violência e a Dissimulação

Sun Tzu estabelece dois princípios fundamentais para sua arte. O primeiro é que toda a arte da guerra é baseada na dissimulação. O segundo, e mais profundo, é que a suprema arte da guerra é submeter o inimigo sem lutar.

O objetivo final de uma operação militar, para o mestre, é a vitória e não a persistência. Os melhores mestres da guerra são aqueles que conseguem fazer o exército inimigo render-se sem necessidade de lutar, vencendo sem violência. Isso exige astúcia: quando se tem força de ataque, é preciso aparentar incapacidade; quando próximo, fazê-lo crer que se está longe. A invencibilidade reside na defesa (em conhecer-se), enquanto a vulnerabilidade pertence ao adversário (em conhecê-lo). Se um exército é capaz de se situar previamente em posição de ganhar com segurança, ele se impõe sobre aqueles que já perderam de antemão.

A dissimulação é tão crucial que o general deve, inclusive, manipular a percepção de suas próprias tropas, mantendo seus planos tranquilos e absolutamente secretos. Para guiar os soldados, é preciso que eles sigam o comando sem saber para onde caminham.

O Rigor da Avaliação e a Condição do Comando

Sun Tzu tratava a guerra como um assunto de vital importância para o Estado. Não refletir sobre o que está relacionado a ela é visto como uma prova de indiferença à conservação ou à perda do que é mais importante.

A avaliação deve ser feita com base em cinco fatores fundamentais: doutrina, tempo, terreno, comando e disciplina. A doutrina é o que harmoniza o povo com seu governante, fazendo-o segui-lo sem temer perigo. O comando, por sua vez, exige cinco qualidades essenciais: sabedoria, sinceridade, benevolência, coragem e disciplina. O general que domina esses fatores vence; o que não o faz, sai derrotado.

Adicionalmente, sete fatores precisam ser comparados entre grupos rivais, incluindo qual dirigente é mais sábio e qual exército administra recompensas e castigos de forma mais justa.

O cerne de toda análise, contudo, repousa no auto-conhecimento e no conhecimento do adversário:

"Se você conhece os outros e conhece a você mesmo nem em 100 batalhas irá correr perigo".

Se, no entanto, você não conhece os outros e nem a si mesmo, correrá perigo em qualquer batalha.

O Perigo das Campanha Prolongadas e a Velocidade

Uma lição crucial de Sun Tzu, aplicável à gestão de projetos e recursos, é a aversão às campanhas militares longas. Mesmo vencendo, se a batalha se prolongar, as tropas desanimarão, as forças se esgotarão e os mantimentos acabarão, o que é uma praga para qualquer país. O esgotamento dos recursos leva à arrecadação forçada de impostos e à ruína do próprio país.

A resposta para evitar o esgotamento é a velocidade: "seja rápido como o trovão que retumba antes que possamos tampar os ouvidos, veloz como o relâmpago que reluz antes que sejamos capazes de piscar".

A força militar deve ser aproveitada através do ímpeto (percepção) e não apenas da força bruta dos soldados. Quando o exército tem a força do ímpeto, até o tímido se torna valente. Da mesma forma, os experts em armas evitam atacar quando o espírito do exército inimigo está entusiasmado, esperando para atacar quando este está preguiçoso ou pensando na retirada.

Adaptação e Terreno: A Estratégia como Água

As formações militares e as leis da guerra não são imutáveis; elas devem mudar continuamente. Sun Tzu compara as formações à água: "A natureza da água é seguir do alto para o baixo. A natureza dos exércitos é evitar o cheio e atacar o vazio". O fluxo da água é determinado pela terra, e a vitória é determinada pelo adversário. Ter a capacidade de mudar e se adaptar de acordo com o inimigo é a marca de um gênio das guerras.

O general deve conhecer as nove classes de territórios (como dispersão, chave, interseção, e mortífero) e adaptar sua estratégia para cada um. Por exemplo, em um território mortífero (onde se luta rapidamente para sobreviver), as tropas lutarão de maneira espontânea, e por isso, o conselho é: "Situa as tuas tropas em um terreno mortífero e elas sobreviverão". Colocá-los em perigo de morte os fará lutar para viver.

A Importância Crítica da Espionagem

Por fim, Sun Tzu dedica um capítulo inteiro à inteligência, sublinhando que a informação é essencial. Falhar em conhecer a situação do adversário por economizar nos gastos com investigação é desumano e não é típico de um bom chefe militar.

A informação prévia não vem de presságios, mas da inteligência humana. Para isso, ele define cinco classes de espiões (nativo, interno, agente duplo, liquidável e flutuante), todos trabalhando simultaneamente. O agente duplo, subornado dentre os espiões inimigos, é crucial, pois o conhecimento dos cinco tipos de espionagem depende dele.

Sun Tzu conclui que um general sábio deve usar os mais inteligentes para a espionagem, garantindo a vitória. A espionagem é essencial para as operações militares, e os exércitos dependem dela para levar a cabo suas ações.

Em suma, A Arte da Guerra é um testemunho da sabedoria oriental que enxerga o conflito não como um ato de força bruta, mas como uma intricada dança de estratégia, percepção (ímpeto) e análise fria. O governante esclarecido deve sempre levar em conta que as armas são instrumentos de mau agouro e devem ser usadas apenas quando não há outro remédio.