A semana econômica, conforme detalhado no resumo, desenhou um cenário de complexidade e incertezas, com desdobramentos significativos tanto na polÃtica nacional quanto na economia global. Desde os tribunais brasileiros até as cúpulas asiáticas e os mercados financeiros internacionais, uma série de eventos se entrelaçaram, gerando tanto preocupações quanto oportunidades.
No cenário polÃtico interno, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal e a crescente discussão em torno da anistia dominaram as manchetes. As propostas de anistia, que variam de uma versão mais radical que perdoaria Bolsonaro de todos os crimes e devolveria seus direitos polÃticos, a uma intermediária que perdoaria mas não devolveria os direitos, e uma "ampla" que incluiria todos os investigados desde 2019, inclusive os envolvidos nos atos de 8 de janeiro, mostram a busca por um "meio termo" que possa ser aprovado. A atuação do governador de São Paulo, TarcÃsio de Freitas, na articulação por essa pacificação é vista com grande interesse pelos investidores, que o consideram um potencial candidato à presidência, agradando o mercado financeiro.
Economicamente, o Brasil experimentou uma desaceleração notável. No primeiro trimestre, o paÃs era o segundo em crescimento global, mas no segundo trimestre, com um avanço de apenas 0,4% no PIB, caiu para a 32ª posição entre 55 paÃses. Essa "marcha lenta" é atribuÃda ao fim do efeito da "super safra do agronegócio", que havia impulsionado os números, e ao impacto dos juros elevados a 15% ao ano, que encareceram o crédito, desaceleraram o consumo e reduziram os investimentos. Enquanto paÃses como Indonésia, Taiwan e Malásia cresceram acima de 2%, e até Estados Unidos (0,8%) e China (1,1%) se saÃram melhor, a economia brasileira entrou em uma fase que economistas consideram um "vexame".
Para agravar a situação interna, uma nova conta salgada se aproxima do bolso do brasileiro com a aprovação da reforma tributária. O novo modelo, que cria o IVA Dual (IBS e CBS) em substituição a PIS, COFINS, ICMS e ISS, embora pareça mais simples, pode elevar a alÃquota tributária sobre aluguéis de 3,65% para 10,60%, quase o triplo. O alerta é que esse custo extra será repassado para o inquilino, intensificando a pressão em um mercado já desafiado por déficit habitacional e altos custos, prometendo uma "pancada tributária" ou "tarifaço brasileiro".
No cenário internacional, as tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos alcançaram um "clima de tensão máxima". As tarifas de 50% impostas por Donald Trump levaram empresários brasileiros a Washington D.C., mas a mensagem foi clara: a solução é polÃtica e está em BrasÃlia. Setores como siderurgia, café, frigorÃficos, calçados e petróleo seriam os mais afetados, e a indústria cogita um cenário radical de 12 a 15 meses sem comércio com os EUA. A possibilidade de o governo Lula retaliar com a "lei da reciprocidade econômica" em vez de negociar, como fazem outros paÃses, sugere um risco de prejuÃzo bilionário e isolamento comercial para o Brasil.
Em contraste com as incertezas, o ouro continua a brilhar, atingindo novos recordes históricos acima de $3.550 a onça nesta semana. Investidores buscam refúgio no metal precioso em meio a riscos polÃticos persistentes, como o avanço lento do cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, preocupações com a independência do Banco Central Americano e as incertezas tarifárias de Trump. A desvalorização do dólar, impulsionada pela expectativa de corte de juros nos EUA, também tem impulsionado o ouro, com analistas do Goldman Sachs projetando que a cotação pode chegar a $4.000 até meados de 2026, ou até $6.000 se a independência do Banco Central Americano for comprometida.
Uma situação de grande incerteza envolve os bancos brasileiros e a Lei Magnitsky. A decisão do STF de ignorar sanções estrangeiras colocou as instituições financeiras em uma encruzilhada: cumprir as exigências dos EUA ou seguir as determinações brasileiras. A Lei Magnitsky, que levou o Tesouro Americano a questionar os bancos sobre o cumprimento das sanções contra o Ministro Alexandre de Moraes – acusado de violar direitos de liberdade de expressão e humanos ao autorizar prisões arbitrárias –, representa um risco imenso. A desobediência à s sanções poderia resultar em multas milionárias, perda de acesso ao sistema financeiro global, fuga de capitais, valorização do dólar, inflação e, em última instância, juros ainda mais altos e desemprego. O Banco do Brasil, um dos bancos onde Moraes tem conta, já prepara um plano de contingência, e há o risco de instituições estrangeiras deixarem o Brasil, repetindo o que aconteceu com bancos russos. A mensagem do mercado é clara: brincar com sanções internacionais pode ter um "custo muito caro".
Em meio a todas essas turbulências, a China dobrou sua aposta no Brasil. Em 2024, os investimentos chineses somaram $4,2 bilhões, um salto de 113% em relação ao ano anterior, tornando o Brasil o terceiro maior destino de investimentos chineses no mundo e o primeiro entre os paÃses emergentes. Os chineses estão diversificando seus investimentos, indo além de petróleo e energia para setores como tecnologia, carros elétricos, indústria e energias renováveis (solar e eólica), focando agora também no mercado consumidor brasileiro.
A semana, portanto, foi um microcosmo das interconexões entre polÃtica e economia, tanto em nÃvel nacional quanto global. As decisões em BrasÃlia, Washington e Shangai, as flutuações dos mercados e os movimentos de capital desenham um panorama que exige atenção constante e estratégias bem definidas para navegar por águas tão turbulentas.