O que é o Comunismo? Uma Análise Abrangente da Ideologia

 






O comunismo é uma das ideologias mais influentes do mundo, tendo moldado pessoas, cidades, nações e provocado inúmeras revoltas, revoluções e guerras, inclusive quase uma Terceira Guerra Mundial. Este artigo explora o que é o comunismo, suas origens, teorias, símbolos, correntes e as principais críticas levantadas contra ele, conforme abordado em um vídeo do canal "Plano Piloto".

A Trajetória Histórica e o Surgimento do Comunismo

Para entender o comunismo, é essencial retroceder no tempo e analisar a evolução das sociedades.

   Do Feudalismo ao Capitalismo: Após a queda do Império Romano Ocidental, as cidades declinaram, e a população tornou-se predominantemente rural, vivendo sob o feudalismo. A nobreza era dona das terras, e a maioria das pessoas eram servos. No entanto, em vilas ao redor dos castelos, surgiram os burgueses, que viviam do comércio. Com o tempo, muitos burgueses enriqueceram, ganhando poder e influência, especialmente com a chegada da Revolução Industrial. A importância do trabalho agrícola diminuiu, e as pessoas voltaram às cidades, marcando a transição para o capitalismo.
   A Ascensão da Burguesia e do Proletariado: No capitalismo, os burgueses se tornaram os novos detentores do poder, possuindo grandes fábricas e riquezas. O bem material passou a ser o mais importante, e o mercado mediou todas as relações. Com o crescimento das cidades, a população sem terras ou fábricas oferecia seu trabalho para sobreviver. O objetivo do capitalismo, acumular capital a todo custo, levou a condições de trabalho horríveis e salários baixíssimos para esses trabalhadores, enquanto os burgueses ficavam com a maior parte do que era produzido.

As Teorias de Karl Marx e a Luta de Classes

É nesse cenário de exploração que nasce o socialismo, uma ideia de mudança social para uma sociedade mais igualitária. Karl Marx, juntamente com Friedrich Engels, não inventou a ideia de uma sociedade igualitária, mas incorporou a ela sua teoria da luta de classes.

   Luta de Classes: Marx argumentava que a história humana é baseada em conflitos entre uma classe dominante e opressora e uma classe oprimida. Exemplos incluem patrícios versus escravos na Roma Antiga, nobres versus servos no feudalismo, e burgueses versus trabalhadores (o proletariado) no capitalismo.
   Mais-Valia e Revolução: Para Marx e Engels, essa sociedade capitalista não era justa, pois os burgueses possuíam tudo, mas não produziam nada, enquanto os trabalhadores produziam tudo, mas possuíam nada. A diferença entre o custo de produção e o valor de venda era a mais-valia, que ficava com os burgueses. Marx previu que, por serem a maioria, os trabalhadores perceberiam essa exploração e se revoltariam, tomando o poder através de uma revolução. O objetivo seria tomar posse dos meios de produção, abolir a propriedade privada (dos meios de produção, não dos bens pessoais) e as classes sociais.

Do Socialismo ao Comunismo: As Etapas Propostas

Para os comunistas, a mudança não viria por reformas graduais do Estado, que foi criado pelos burgueses para manter seu poder, mas sim por uma revolução radical que derrubaria todas as instituições existentes.

   Socialismo (Ditadura do Proletariado): A revolução levaria à criação de uma sociedade socialista, onde o Estado seria governado pelos trabalhadores (o proletariado). Eles estabeleceriam uma ditadura do proletariado para trabalhar pelo bem de todos, distribuindo os bens igualmente de acordo com a necessidade de cada um. Teoricamente, como os trabalhadores são a maioria, esse governo representaria toda a sociedade.
   Comunismo (Estágio Final): Após o Estado socialista organizar a sociedade e todos se tornarem donos dos meios de produção, a sociedade evoluiria para o estágio final: o comunismo. Neste ponto, todos trabalhariam e ajudariam os que não pudessem, e o governo não seria mais necessário, deixando de existir.

Definição, Simbologia e Correntes

Em resumo, o comunismo é uma ideologia política e socioeconômica que busca, através de uma revolução do proletariado, a abolição da propriedade privada (dos meios de produção), das classes sociais e, eventualmente, do próprio Estado.

   Etimologia e Símbolo: A palavra "comunismo" vem do latim comunes, que significa "aquilo que pertence a todos". O símbolo mais comum é a foice e o martelo, representando os trabalhadores agrícolas e industriais, respectivamente. Ele se popularizou na bandeira da União Soviética, juntamente com a cor vermelha, que simboliza o sangue derramado na revolução e na luta social.
   Correntes do Comunismo: Existem diferentes interpretações do comunismo, que surgiram de líderes ou movimentos revolucionários:
       Marxismo: A versão original de Marx.
       Leninismo: Versão de Vladimir Lênin, que defendia a necessidade de um partido de vanguarda para liderar a classe trabalhadora.
       Trotskismo: Corrente de Leon Trótski, que acreditava que o comunismo deveria se espalhar globalmente, em contraste com o estalinismo.
       Estalinismo: Visão de Josef Stalin, que focava na construção de um único país socialista (a União Soviética).
       Maoísmo: A versão do líder chinês Mao Tsé-Tung.
       Outras versões incluem a de Cuba, entre outras.

Comunismo vs. Socialismo: Distinções Cruciais

Embora ambos busquem uma sociedade igualitária, o comunismo é considerado mais radical que o socialismo, muitas vezes posicionado como de extrema esquerda devido aos seus métodos extremos.

   Estado: O socialismo defende um Estado maior e mais influente, que controla mais coisas. Já o comunismo defende a abolição total do Estado, similar aos anarquistas, embora haja divergências sobre como alcançar essa sociedade sem Estado.
   Outras Abolições Propostas pelo Comunismo: Sem classes sociais, sem partidos políticos (pois partidos representam interesses de grupos/classes que seriam abolidas), sem fronteiras, sem propriedade privada (dos meios de produção), sem desigualdade e sem disputa de classe.
   Realidade dos Países "Comunistas": De acordo com a definição apresentada, nunca existiu um país verdadeiramente comunista. Países como a União Soviética, China, Coreia do Norte e Cuba, que se dizem ou se disseram comunistas, na verdade, estão (ou estavam) no caminho para uma sociedade comunista, mas ainda não a alcançaram. Eles ainda possuem desigualdade, fronteiras, propriedade privada (embora grande parte das empresas seja do governo ou controlada por ele), partidos políticos (geralmente um único Partido Comunista dominante) e, o mais óbvio, ainda existe o Estado. Líderes que se intitulam comunistas são, tecnicamente, socialistas, se defendem a implementação de algo para chegar a uma sociedade comunista, mas ainda não a alcançaram plenamente.

Principais Críticas ao Comunismo

O comunismo enfrenta diversas críticas significativas:

   Natureza Humana: Argumenta-se que a natureza humana é inerentemente desigual e competitiva, buscando se sobressair. Essa "briga" é vista como a causa da luta de classes, não algo criado pelo capitalismo. A criação de uma sociedade onde todos são iguais e trabalham por outros sem conhecer é considerada difícil ou impossível, dada a individualidade humana.
   Corrupção: A ideia de que os burgueses são "maus" e os trabalhadores são "bons" é simplista. A história mostra que o ser humano é complexo. Críticos apontam que, ao tirar o poder dos burgueses e dá-lo aos trabalhadores, nada garante que esses novos líderes não se tornarão corruptos. O livro "A Revolução dos Bichos" de George Orwell ilustra essa ideia: os líderes da revolução (os porcos) acabam se tornando tão opressores quanto os fazendeiros que depuseram.
   Igualdade da Miséria: Em muitos países que tentaram implementar o comunismo ou socialismo, a promessa de riqueza igualitária resultou em pobreza generalizada, com exceção da classe burocrática no poder. A falta de competição e incentivo individual é apontada como um fator que impede a geração de riqueza e inovação.
   Utopia que Nunca Deu Certo: Talvez a crítica mais comum é que o comunismo nunca foi implementado de verdade em nenhum país, de acordo com sua definição original. A evolução teórica de Marx e Engels (capitalismo -> socialismo -> comunismo) nunca se concretizou. Os países que tentaram, chegaram no máximo ao socialismo, estabelecendo estados totalitários sem liberdades individuais, onde o poder se concentrou nas mãos de poucos burocratas que, uma vez no poder, não o largam.
   Sem Individualismo e Religião: Em uma sociedade coletivista como a proposta pelo comunismo, o Estado governado pela ditadura do proletariado tende a restringir as liberdades individuais para tentar criar a igualdade. A religião é vista como uma ferramenta das classes dominantes para controlar as massas, e o comunismo geralmente busca eliminá-la. Aqueles que não se encaixam na ideologia podem ser "reeducados" ou, em casos extremos, eliminados.

Este panorama oferece uma introdução ao complexo universo do comunismo, desde suas raízes históricas e teorias fundamentais até suas manifestações práticas e as objeções que levanta.


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