O capitalismo é o sistema econômico que organiza a economia na maior parte do mundo atualmente. Para muitos, é a base de sua subsistência diária, desde a compra de um lanche até a obtenção de roupas, geralmente através do trabalho assalariado. Contudo, o capitalismo é um tema que gera opiniões polarizadas: há quem o ame, quem o odeie, e quem sequer compreende seu significado profundo.
O que é e Como Funciona?
Em sua essência, o capitalismo é um sistema econômico que define os modos de produção, troca e distribuição de bens em uma sociedade. Suas características fundamentais incluem:
A propriedade privada dos meios de produção de bens e serviços, como fábricas, fazendas, lojas, hospitais e escolas.
O trabalho assalariado.
A obtenção sistemática de lucro derivado de trocas comerciais.
A livre competição e uma economia de mercado como principal característica.
É crucial entender que, embora intimamente ligados, capitalismo e economia de mercado não são sinônimos. A economia de mercado é o centro da organização econômica capitalista, e é impossível haver capitalismo sem uma economia de mercado. No entanto, é possível haver economias de mercado não-capitalistas. O mercado, nesse contexto, representa a dinâmica entre a oferta e a demanda por bens e serviços, e é a partir da competição dentro dele que se definem a produção e o investimento.
No sistema capitalista, não há uma autoridade central que determine o que, quanto e quem deve produzir, ao contrário dos regimes socialistas onde a produção era planificada por um governo central. Mesmo com diferentes níveis de regulação e a presença de empresas públicas, toda atividade profissional em uma sociedade capitalista está sujeita, direta ou indiretamente, à lei da oferta e da demanda. O dinheiro atua como facilitador das transações comerciais, sendo tanto o fim quanto o meio das atividades econômicas capitalistas.
Trajetória Histórica e Transformações Sociais
O capitalismo, com seu profundo impacto social, ajudou a efetuar mudanças inéditas na história da humanidade. Antes de sua consolidação, as monarquias absolutistas reinavam na Europa, com poder político concentrado nos reis e um sistema econômico associado chamado mercantilismo. O mercantilismo, visto por alguns como uma forma primitiva de capitalismo devido à promoção de trocas comerciais internacionais, assumiu um caráter protecionista e nacionalista, impulsionando o imperialismo e a busca por colônias. Essa lógica mercantilista, com taxas abusivas, monopólios estatais e proibições de comércio para as colônias, passou a ser vista como um obstáculo por mercadores e empresários que ganhavam dinheiro e poder através dela.
A insatisfação crescente se uniu às ideias do Iluminismo (liberdade, separação entre igreja e estado), culminando nas revoluções liberais (séculos XVIII e XIX), como as Revoluções Inglesa, Americana e Francesa. Com a derrota do absolutismo e a separação entre estado e igreja, o poder político passou a ser submetido a constituições, garantindo maior liberdade de comércio e uma ordem legal estável.
Simultaneamente, a Revolução Industrial trouxe um aumento tremendo na produtividade, acumulando capital e expandindo a comercialização de bens. Isso gerou muitos empregos e o surgimento de uma massa de trabalhadores assalariados, potenciais consumidores. A união da Revolução Industrial, da economia de mercado capitalista e do estado democrático laico e constitucional deu origem ao que a Sociologia chama de modernidade, promovendo e acelerando intensas mudanças sociais.
Críticas e Perspectivas
O capitalismo tem sido objeto de defesas e críticas apaixonadas. Para alguns, é o auge da organização econômica humana, responsável pela redução da miséria e o aumento da produtividade. Para outros, é um modelo de exploração da classe oprimida ou uma fonte de degeneração moral.
Os marxistas estão entre os críticos mais relevantes, especialmente devido às duras e insalubres condições de trabalho no início da Revolução Industrial. Para eles, o capitalismo não é apenas um sistema econômico, mas permeia outros aspectos da sociedade, como a política, as relações familiares, a cultura e a religião. Eles o veem como uma fase na luta de classes, onde a burguesia (donos dos meios de produção) explora o restante da sociedade, mantendo sua vantagem através de uma expressão ideológica que simula justiça. Para os marxistas, o capitalismo não é uma escolha moral, mas uma organização histórica.
Já os conservadores, especialmente aqueles com forte marca religiosa, teceram uma crítica moral ao capitalismo, vendo-o como promotor de egoísmo, decadência moral e desagregação social. Isso porque a religião, na Europa pré-moderna e pré-capitalista, cuidava não só das necessidades espirituais, mas também da ordem social, que foi profundamente alterada pelo capitalismo. Contudo, pensadores como Max Weber demonstraram uma afinidade entre o protestantismo e o espírito do capitalismo, onde elementos da ética protestante (como a noção de vocação, ética profissional e vida frugal) teriam favorecido a acumulação de capital no início do sistema.
Fases do Capitalismo
O capitalismo evoluiu por diferentes fases históricas:
Capitalismo Clássico (século XIX): Caracterizado pela noção de laissez-faire, um mercado totalmente livre sem intervenção estatal.
Capitalismo Keynesiano (após a Crise de 1929): Reconhecendo que o mercado deixado sozinho poderia arruinar o próprio sistema, o estado passou a regular mais o mercado e a investir em programas de bem-estar social.
Capitalismo Globalizado (a partir da década de 1980): Após a queda do Muro de Berlim e o colapso da União Soviética, o capitalismo se consolidou como regime econômico global. A cadeia de produção de bens e serviços se estende entre países, liderada por multinacionais interconectadas, e existem órgãos transnacionais de promoção de políticas econômicas como o FMI, o Banco Mundial e a OMC. O avanço tecnológico, especialmente da tecnologia da informação e da internet, foi crucial para essa globalização.
Em última análise, o capitalismo continua a ser um tema de debate intenso, com questões sobre sua responsabilidade pela inovação e pela redução da miséria, ou se ele é apenas "o que temos para hoje".