A Face Oculta do Foro de São Paulo: Uma Análise da Esquerda Latino-Americana
O vídeo "A FACE OCULTA DO FORO DE SÃO PAULO", do canal Brasil Paralelo, propõe revelar um lado "oculto" na história da América Latina, focando na formação e nas ações do Foro de São Paulo, uma aliança de partidos e organizações de esquerda na região. A narrativa começa contextualizando o cenário político-intelectual que antecedeu a formação do Foro, culminando na sua criação e nos desdobramentos de suas políticas ao longo das décadas.
Raízes Ideológicas e o Contexto Pré-Foro
A obra do escritor uruguaio Eduardo Galeano, "As Veias Abertas da América Latina", lançada em 1971, é apresentada como um marco influente. O livro analisa a exploração política e econômica da América Latina pela Europa e pelos Estados Unidos, tornando-se conhecida como a "Bíblia da esquerda" e impulsionando um sentimento anti-americano e anti-imperialista em todo o continente. Este clamor por autodeterminação, segundo o vídeo, culminaria em 1990 com um encontro em São Paulo de lideranças de esquerda, que buscavam uma aliança capaz de conceder autonomia aos povos da região. Paralelamente, é feita uma breve menção ao impacto global do Manifesto Comunista, escrito em 1848, como uma ideologia que desde então circula pelo mundo.
O Nascimento do Foro de São Paulo
Em junho de 1990, na cidade de São Paulo, ocorreu a reunião precursora do que viria a ser o Foro de São Paulo, denominada "Encontro de Partidos e Organizações de Esquerda da América Latina e Caribe". Este evento foi idealizado por Luiz Inácio Lula da Silva e Fidel Castro, que, segundo o vídeo, tiveram um "diálogo histórico". A segunda reunião, em 1991, na Cidade do México, já contava com 78 partidos.
Inicialmente, o Foro era uma plataforma para discutir ações na ordem internacional, o balanço das lutas pela democracia e pelo socialismo na América Latina e Caribe, e problemas estratégicos para a luta pelo socialismo na região. Desde então, tem promovido encontros anuais ou bienais para integração entre lideranças de esquerda, fortalecendo laços de confiança e amizade.
A Controvérsia em Torno do Foro: Negação, Confirmação e Objetivos
A existência do Foro de São Paulo foi inicialmente alvo de ceticismo e negação. Boris Casoy, em 2002, considerava uma "piada de mau gosto" a ideia de uma aliança entre Hugo Chávez, Fidel Castro e Lula. O filósofo Olavo de Carvalho, radicado nos Estados Unidos, com um "tom alarmista", chamava essa aliança continental de esquerda de Foro de São Paulo, o que soava a muitos como "delírio conspiracionista". Fernando Henrique Cardoso, por sua vez, descreveu o Foro como uma "união de grupos de esquerda [...] que na prática nunca existiu" e uma "coisa completamente anacrônica, completamente estúpida".
No entanto, o vídeo destaca que a promoção das denúncias sobre o Foro nas páginas da revista Veja pelo colunista Reinaldo Azevedo, e, principalmente, uma reportagem da própria Veja em 2008 sobre o encontro do Foro em Montevidéu, Uruguai, no edifício do Mercosul, confirmaram sua existência. A reportagem identificou participantes conhecidos, como os petistas Marco Aurélio Garcia, José Eduardo Cardozo, Raul Pont, Walter Pomar e Nilmário Miranda. Nesses discursos, os participantes expressavam ódio pelos Estados Unidos e apoio à ditadura Cubana, além de um "neoliberalismo" na região.
Apesar de a organização defender uma luta pela democracia, soberania e justiça social, o vídeo argumenta que essa atribuição "esbarra em um vasto compêndio de evidências factuais contradizendo-a".
Por outro lado, integrantes ativos do Foro, como Marco Aurélio Garcia, revelam um panorama diferente, afirmando que a organização trabalhou e lutou para a chegada ao poder de líderes esquerdistas como Fidel, Chávez, Morales, Bachelet e Correa, e que o Foro de São Paulo é parte dessa conquista. Eles afirmam que "devemos muito aos companheiros cubanos". O vídeo conclui que, se o Foro contribuiu para a ascensão desses líderes, ele é "a mais poderosa organização política do continente e uma das mais poderosas do mundo".
Membros do Foro não se sentem ofendidos ao serem chamados de comunistas ou socialistas; pelo contrário, isso os "orgulha", diferenciando-se de termos como nazista, neofascista ou terrorista, que seriam ofensivos.
Líderes Controversos e Conexões com o Crime
O vídeo aponta que, além do Partido Comunista de Cuba, o Partido Socialista Unido da Venezuela, presidido por Nicolás Maduro, e a Frente Sandinista de Libertação Nacional da Nicarágua, liderada por Daniel Ortega, estão entre os membros mais influentes do Foro de São Paulo.
Nicolás Maduro: Chegou ao poder através de eleições denunciadas como fraudadas por diversos países. É acusado por órgãos internacionais de integrar o "Cartel dos Sóis", uma rede de tráfico internacional de cocaína liderada por militares venezuelanos. O governo venezuelano é também acusado de crimes contra a humanidade, incluindo execuções extrajudiciais e tortura. Os Estados Unidos chegaram a oferecer um prêmio de US$ 15 milhões por informações que levassem à sua captura, acusando-o de inundar os EUA com cocaína em ação conjunta com as FARC.
Daniel Ortega: Promoveu alterações legislativas que lhe garantiram supremacia sobre os demais poderes e o direito à reeleição por tempo indeterminado. Em 2018, reprimiu brutalmente manifestações, deixando 351 mortos, e consolidou um regime de perseguição a opositores e católicos. Em 2021, foi reeleito para seu quarto mandato consecutivo após prender praticamente todos os candidatos concorrentes. Documentos vazados pela Wikileaks em 2010 revelaram que o governo de Ortega na Nicarágua é financiado pela Venezuela e pelo narcotráfico, e que ele fortalecera vínculos com Irã e Venezuela, demonstrando simpatia pelas FARC.
Evo Morales (Bolívia): O país sob sua presidência foi abalado por escândalos de envolvimento de dirigentes com o narcotráfico, com "proteção grosseira ao narcotráfico na Bolívia".
Rafael Correa (Equador): Um vídeo encontrado pela polícia colombiana mostrou um dos líderes das FARC, Manoel Marulanda, confirmando uma doação para a campanha de Rafael Correa, também membro do Foro de São Paulo.
Relações do Foro de São Paulo com as FARC e o Narcotráfico
O vídeo enfatiza uma forte ligação entre o Foro de São Paulo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), classificadas como organização terrorista pela Colômbia, Estados Unidos, Canadá e União Europeia. As FARC, que se tornaram uma guerrilha marxista-leninista, ingressaram no mercado ilícito de entorpecentes na década de 1980, dominando o tráfico de cocaína e praticando sequestros.
As FARC foram membro oficial do Foro de São Paulo até 2002, e mesmo depois disso, seu prestígio nos encontros permaneceu "inabalado".
Membros do Foro que se dizem contra a violência "ficam tentando justificar a existência das FARC". O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, inclusive, lamentou a morte de um chefe das FARC e expressou solidariedade à sua família.
Em 2019, a justiça colombiana autorizou dois ex-líderes das FARC a participarem de uma reunião do Foro de São Paulo na Venezuela.
Raul Reyes, um comandante das FARC, concedeu uma entrevista em 2003 à Folha de São Paulo, na qual afirmou ter buscado reestabelecer contato com o governo Lula, mencionando ter conhecido Lula em um dos foros de São Paulo em El Salvador.
Padre Olivério Medina, conhecido como "embaixador" das FARC no Brasil, prometeu US$ 5 milhões para campanhas eleitorais de candidatos do PT em 2002, informação que se repete em três documentos da ABIN, detalhando a transferência via Trinidade e Tobago para pequenos empresários brasileiros que doariam o dinheiro.
Em 2005, o governo Lula concedeu a Padre Olivério Medina o status de refugiado político, impedindo sua extradição para a Colômbia, onde seria julgado por crimes como homicídio e sequestro. No ano seguinte, a esposa de Padre Olivério foi nomeada para um cargo no governo federal de Lula na Secretaria Especial da Aquicultura e Pesca, após um pedido da então ministra Dilma Rousseff. A própria esposa relatou ao comandante Raul Reyes que a nomeação visava protegê-la de ataques da direita.
Integração Regional e Políticas Econômicas
O Foro de São Paulo é descrito como um "compromisso", um "pacto de cooperação" visando a "utópica integração completa do continente em um bloco socialista", apelidado de "Pátria Grande". Sob essa visão, as políticas dos governos alinhados ao Foro tratam os interesses nacionais como subordinados aos compromissos com os "compatriotas da Pátria Grande".
O vídeo apresenta exemplos de como essa integração se manifestou durante os governos do PT no Brasil:
Relações Brasil-Venezuela: Lula instituiu reuniões frequentes com Hugo Chávez para "aparar todas as arestas" e incentivar investimentos de empresários brasileiros na Venezuela.
Empréstimos do BNDES a Cuba e Venezuela: Entre 2007 e 2015, durante os governos do PT, Cuba e Venezuela receberam R$ 11 bilhões em empréstimos do BNDES. No entanto, desde 2018, ambos os países não honraram os pagamentos, tornando-se devedores bilionários. A quantia, segundo o vídeo, daria para construir mais de 800 hospitais.
Porto de Mariel (Cuba): As obras de revitalização do Porto de Mariel, em Cuba, foram realizadas por uma empresa brasileira com financiamento do BNDES. Documentos de 2010 indicam que o Brasil aceitou "promessas cubanas" como garantia para um empréstimo bilionário, e o governo brasileiro precisaria desembolsar mais de R$ 3 bilhões para cobrir um calote de Cuba.
Programa Mais Médicos (2013): Lançado pelo governo Dilma, o programa atraiu médicos estrangeiros para o Brasil, com mais de 60% vindo de Cuba. O regime de contratação garantia a retenção de cerca de 70% dos salários dos médicos pelo governo cubano, transformando o programa em um mecanismo de transferência de renda do Tesouro brasileiro para a ditadura cubana. A revista Veja estimou em 2015 que o Brasil já havia desembolsado R$ 2,8 bilhões para os médicos cubanos, dos quais R$ 1,9 bilhão ficou com o governo de Cuba. Documentos revelados indicam que o programa foi sugerido por Cuba e negociado em sigilo para "driblar o congresso" e evitar reações negativas da classe médica brasileira. Gravações internas mostram preocupação em esconder do público que o "governo cubano" estava envolvido, sugerindo que a documentação focasse em Mercosul e Unasul para "tirar o foco só Cuba". A chegada dos médicos cubanos foi celebrada com gritos de "Brasil, Cuba, América Central! A luta socialista é internacional! Cuida, imperialista! América Latina vai ser toda socialista!".
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O vídeo conclui que existem "três coisas que não podem ser escondidas por muito tempo: o sol, a lua e as faces ocultas" que o material se propõe a revelar, incentivando o compartilhamento para que as pessoas conheçam a "verdadeira face da esquerda latino-americana" e seus segredos.