Este artigo propõe uma reflexão sobre os recentes desafios enfrentados pelo SBT, uma das emissoras mais icônicas do Brasil, que atravessa um momento de turbulência estratégica e de identidade após a morte de seu fundador, Silvio Santos.
A Crise de Audiência e o Peso das Escolhas
Recentemente, o SBT registrou um marco negativo em sua história: a pior audiência de um sábado em 40 anos, atingindo uma média de apenas 1,7 pontos na Grande São Paulo. Este declínio não é um fenômeno isolado, mas o ápice de uma crise que combina a ascensão da internet, a perda do carisma ao vivo de Silvio Santos e, mais recentemente, o que é interpretado como um "boicote" de setores da direita.
O estopim para essa reação negativa teria sido a cerimônia de lançamento do canal SBT News. A presença e os discursos do presidente Lula e do ministro Alexandre de Moraes foram vistos por parte do público — tradicionalmente mais conservador — como um desalinhamento com os valores que a emissora costumava representar. Embora a audiência tenha subido momentaneamente no dia do evento devido à repercussão, os dias seguintes mostraram uma queda drástica.
A Sucessão e a "Malícia" Estratégica
Um ponto central para reflexão é a transição de comando para Patrícia Abravanel. Embora ela venha se esforçando e apresentando bom desempenho como comunicadora, as fontes sugerem que lhe falta a "malícia" política e a gestão de danos que seu pai possuía. Silvio Santos sempre recebeu autoridades de diferentes espectros políticos, mas sabia equilibrar essas relações sem alienar sua base de espectadores.
A estratégia atual de convidar autoridades para discursar em eventos da emissora é vista como uma tentativa de atrair verbas publicitárias governamentais em um ano eleitoral, buscando competitividade frente a outros canais de notícias. No entanto, essa busca por recursos financeiros parece ter gerado um custo alto: a quebra de confiança com sua audiência fiel.
A Reação: O Pedido de Entrevista com Bolsonaro
Como uma tentativa de reverter o cenário e recuperar o público perdido, o SBT solicitou autorização ao ministro Alexandre de Moraes para entrevistar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Essa movimentação é interpretada como um gesto de "desespero" ou uma tentativa tardia de equilibrar a balança editorial. Contudo, especialistas apontam que reconquistar essa confiança será uma tarefa árdua, comparável a uma coreografia complexa para não perder o equilíbrio em meio a tensões institucionais.
Reflexão Final O cenário atual do SBT nos faz pensar sobre a fragilidade das concessões de TV aberta e a dependência do capital político e publicitário para a sobrevivência de grandes veículos. Quando uma emissora tenta mudar sua trajetória para se aproximar do poder vigente, corre o risco de se tornar um navio que, ao tentar ajustar as velas para captar novos ventos, acaba por virar ao ignorar a estabilidade que sua carga original (a audiência) lhe proporcionava.
Para entender melhor essa situação, imagine que o SBT é como um restaurante tradicional que sempre serviu o mesmo prato favorito de sua clientela fiel. Ao trocar de gerência e decidir mudar repentinamente o cardápio para atrair novos investidores, o restaurante acaba afastando os clientes antigos sem a garantia de que os novos visitantes permanecerão. Agora, a gerência tenta oferecer um "prato especial" de volta para recuperar os antigos fregueses, mas a confiança no sabor original já foi abalada.