Hey! If we can solve any problem
Then why do we lose so many tears
Oh, and so you go again
When the leading man appears
Always the same thing
Can't you see
We've got everything goin' on and on and on
Every time you go away
You take a piece of me with you
Every time you go away
You take a piece of me with you
Go on and go free, yeah
Maybe you're too close to see
I can feel your body move
It doesn't mean that much to me
I can't go on sayin' the same thing
Just can't you see
We've got everything
Baby even though you know
Every time you go away
You take a piece of me with you
Every time you go away
You take a piece of me with you
I can't go on sayin' the same thing
'Cause baby, can't you see
We've got everything goin' on and on and on
Every time you go away
You take a piece of me with you
Every time you go away
You take a piece of me with you
Composição: Daryl Hall.
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Tradução:
Paul Yaung - Every Time You Go Away (Cada Vez Que Você Vai Embora)
Ei! Se podemos resolver qualquer problema
Então por que perdemos tantas lágrimas
Ah, e então você vai embora de novo
Quando o protagonista aparece
Sempre a mesma coisa
Não consegue ver
Temos tudo seguindo em frente, sem parar
Cada vez que você vai embora
Você leva um pedaço de mim com você
Cada vez que você vai embora
Você leva um pedaço de mim com você
Vá em frente e seja livre, sim
Talvez você esteja perto demais para enxergar
Posso sentir seu corpo se mover
Isso não significa muito para mim
Não posso continuar dizendo a mesma coisa
Será que você não consegue ver
Temos tudo
Querida, mesmo que você saiba
Cada vez que você vai embora
Você leva um pedaço de mim com você
Cada vez que você vai embora
Você leva um pedaço de mim com você
Não posso continuar dizendo a mesma coisa
Porque, querida, não consegue ver
Temos tudo seguindo em frente, sem parar
Cada vez que você vai embora
Você leva um pedaço de mim com você
Cada vez que você vai embora
Você leva um pedaço de mim com você
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A Canção que Despedaça: Uma Reflexão sobre "Every Time You Go Away"
A música, especialmente quando despojada de seu arranjo original e revisitada em versões como a interpretada por Paul Yaung, revela-se um poderoso veÃculo para a expressão de uma dor universal: a da ausência que não apenas distancia, mas que dilacera. "Every Time You Go Away (Cada Vez Que Você Vai Embora)" não é apenas um lamento romântico; é um tratado conciso sobre a natureza fragmentária do eu nas relações humanas.
A letra, aparentemente simples, opera em duas camadas principais de conflito. A primeira é a **contradição entre o racional e o emocional**. O verso inicial é um grito de desespero lógico: "Se podemos resolver qualquer problema / Então por que perdemos tantas lágrimas?". É a perplexidade diante do abismo que separa a capacidade intelectual de resolver conflitos da realidade visceral do sofrimento. O eu lÃrico identifica um padrão cÃclico – "sempre a mesma coisa" – onde a partida se repete, frequentemente catalisada pela aparição de um "protagonista", uma terceira pessoa ou talvez uma nova fantasia que afasta o outro. Há a consciência clara do ciclo, mas uma impotência aparente em quebrá-lo.
Isso nos leva ao cerne da reflexão: o **conceito de self como algo divisÃvel**. O refrão é brutal em sua clareza: "Você leva um pedaço de mim com você". Esta não é uma metáfora vaga sobre saudade. É a afirmação de que, no processo de intimidade, nós nos constituÃmos a partir e através do outro. A identidade não é um núcleo sólido e inabalável, mas uma composição, um mosaico onde partes significativas são emprestadas, compartilhadas ou, como na canção, **arrancadas**. Cada partida não é apenas uma separação geográfica ou emocional; é uma amputação existencial. O que fica é um eu diminuÃdo, menos completo, carregando o vazio do pedaço ausente.
A segunda estrofe introduz uma camada de **autoengano e resignação amarga**. "Vá em frente e seja livre... Isso não significa muito para mim" soa menos como uma declaração de independência e mais como um mecanismo de defesa, uma tentativa falha de negar a importância do outro para minimizar a dor da perda. O corpo ainda sente ("posso sentir seu corpo se mover"), mas a mente tenta racionalizar. No entanto, o esforço é inútil, culminando no reconhecimento inevitável: "Temos tudo". Esta frase, repetida, é ambÃgua. Pode ser um apelo desesperado ("olhe, temos tudo o que precisamos!") ou uma constatação irônica de que, mesmo possuindo "tudo" teoricamente, ainda assim a partida e a fragmentação ocorrem.
A repetição obsessiva do refrão e da ideia de "seguir em frente, sem parar" ("goin' on and on and on") reforça a sensação de um ciclo sem fim. A vida continua, sim, mas é uma continuidade danificada. Não há uma resolução ou redenção anunciada na letra; há apenas o registro preciso e repetitivo do sintoma: você vai, e um pedaço de mim desaparece com você.
Para além do romance: uma leitura ampliada
Embora o contexto imediato seja de um relacionamento amoroso, a reflexão que a música provoca é mais ampla. Ela fala de qualquer vÃnculo profundo onde a identidade se funde – amizades de longa data, laços familiares, parcerias essenciais. "Every Time You Go Away" nos confronta com perguntas incômodas:
* Até que ponto nossa integridade psicológica depende da presença do outro?
* Somos, em essência, coleções de pedaços dados e recebidos ao longo da vida?
* A maturidade emocional estaria, então, em aprender a viver com esses vazios, ou em nos recompor de forma diferente após cada perda?
A música não oferece respostas. Em sua melancolia repetitiva, ela cumpre um papel mais profundo: **validar a experiência da fragmentação**. Ela diz, sem melodrama desnecessário, que é possÃvel ter "tudo" e ainda assim ser dilacerado pela ausência. Que a dor de uma perda não é proporcional à qualidade do que foi vivido, mas à profundidade da integração que ocorreu entre dois seres.
No fim, "Every Time You Go Away" é um hino à vulnerabilidade constitutiva do humano. Lembra-nos que amar, no sentido mais amplo, é aceitar o risco de ser desmontado, pedaço a pedaço, a cada despedida. E que, talvez, a coragem não esteja em evitar essas partidas, mas em seguir em frente carregando, com estranha dignidade, os vazios que elas deixam para trás.