O Êxodo Industrial e Financeiro para o Paraguai: Reflexões sobre Competitividade e Planejamento
O cenário econômico sul-americano está testemunhando um movimento que desafia a lógica tradicional de fronteiras: a migração em massa de empresas e capitais brasileiros para o Paraguai. O que antes era visto apenas como um vizinho comercial, hoje se consolidou como um polo industrial estratégico, atraindo gigantes como a Lupo e diversas outras empresas de setores como têxtil, autopeças e eletroeletrônicos. Esta mudança não é fruto de um único incentivo, mas de um contraste brutal de custos e filosofia econômica entre as duas nações.
A Matemática da Sobrevivência
Para muitas indústrias, a decisão de migrar para o Paraguai é uma questão de sobrevivência e competitividade global, e não apenas uma busca por lucro fácil. Enquanto o Brasil mantém um dos ambientes tributários mais onerosos e complexos do mundo, o Paraguai simplificou sua estrutura. A diferença nos números é gritante:
- Imposto de Renda Corporativo: No Paraguai, a alíquota é de 10% (IRE), enquanto no Brasil a combinação de IRPJ e CSLL pode atingir 34%.
- Encargos Trabalhistas: A folha de pagamento no Paraguai tem encargos de cerca de 16,5%, contra até 28,8% no Brasil, sem contar a complexidade burocrática brasileira.
- Energia: Através de Itaipu, o Paraguai oferece um dos custos energéticos mais baixos do continente, um fator determinante para indústrias eletrointensivas.
Além disso, a simplicidade tributária paraguaia, com um IVA único de 10%, contrasta com a "montanha" de impostos brasileiros (ICMS, PIS, Cofins, IPI, ISS), que exige equipes inteiras apenas para o cálculo e conformidade fiscal.
Previsibilidade como Ativo Econômico
Um dos pontos mais profundos para reflexão é a estabilidade regulatória. No Brasil, as regras mudam com frequência, criando uma incerteza constante para o empresariado. O Paraguai, por outro lado, tem focado em oferecer previsibilidade de longo prazo, permitindo que uma empresa se instale com a segurança de que o ambiente regulatório permanecerá estável pelos próximos 10 a 15 anos. Essa segurança jurídica possui um valor econômico real e mensurável, atraindo investidores que fogem da volatilidade política e jurídica.
Além da Indústria: O Planejamento Patrimonial
O fenômeno não se restringe às fábricas. Investidores e famílias de alto patrimônio estão integrando o Paraguai em seus planejamentos patrimoniais internacionais. Não se trata de evasão fiscal, mas de estruturação legal e diversificação inteligente para proteger ativos contra riscos sistêmicos e instabilidades cambiais.
O Paraguai oferece vantagens em ganhos de capital (10% contra até 34% no Brasil para empresas) e no imposto de renda para pessoas físicas, que tributa apenas faixas altas com alíquotas de 8 a 10%, enquanto a progressividade brasileira chega a 27,5% rapidamente.
Reflexão Final: Duas Visões de Mundo
A migração para o Paraguai revela uma diferença fundamental de filosofia: enquanto o Brasil, em muitos aspectos, tenta proteger o que já possui através de tarifas de importação elevadas e alta carga tributária, o Paraguai foca em atrair o que ainda não tem através de uma economia aberta e incentivos agressivos. Para o empresário e o investidor moderno, entender esse movimento é essencial para alinhar seus investimentos às transformações globais e proteger seu patrimônio em uma jurisdição que prioriza a simplicidade e o crescimento.
Para visualizar essa diferença, imagine dois portos: um possui taxas altíssimas e burocracia complexa para cada navio que atraca, acreditando que isso protege sua economia interna; o outro simplifica as regras e reduz os custos para que todos os navios queiram aportar ali. Com o tempo, o segundo porto não apenas atrai mais carga, mas torna-se o novo centro de comércio, enquanto o primeiro vê seus navios partirem em busca de águas mais navegáveis.