A Amazônia que o Satélite Não Vê: 5 Verdades Incômodas Sobre a Guerra pela Floresta
Quando pensamos na Amazônia, a imagem que vem à mente é quase sempre a mesma: uma floresta vasta e intocada, o lar da onça-pintada, do macaco e da majestosa "rainha da floresta". É uma imagem poderosa, mas perigosamente incompleta. Ela apaga os 20 milhões de brasileiros que vivem, trabalham e sonham dentro dessa imensidão verde.
Essa omissão nos leva a um paradoxo doloroso, uma pergunta que ecoa entre rios e árvores: se a Amazônia é tão rica, por que seu povo passa fome?
Este artigo mostra o que o satélite não enxerga e o que os palcos da COP 30 não mostrarão. Vamos revelar cinco verdades sobre um conflito humano recente, focando na história não contada por trás da expansão de uma terra indígena no Pará — uma história de promessas quebradas, alianças inesperadas e um custo humano que o mundo prefere ignorar.
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1. Os "invasores" não eram invasores: muitos foram assentados pelo próprio governo.
A narrativa comum pinta um quadro de grileiros e invasores ilegais. A realidade, no entanto, é muito mais complexa. Muitas das famílias expulsas à força da área de extensão da Terra Indígena Apyterewa eram, na verdade, assentados do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
O próprio ato de assentamento, que por lei exige uma vistoria local, funciona como uma prova de fé pública de um órgão do Estado de que, na época, não havia presença indígena naquelas terras.
A ironia é cruel: o mesmo Estado que lhes deu a terra foi o que, anos depois, os removeu com bombas e balas de borracha. A expulsão ocorreu sem o devido processo legal, sem ouvir essas pessoas e sem a indenização prevista em lei. Para agravar a situação, durante a operação de desintrusão, o INCRA chegou a fazer um novo cadastramento, alimentando falsas esperanças em quem já havia perdido tudo.
2. Não havia guerra entre agricultores e indígenas: eles tinham um acordo.
Contrariando a ideia de um conflito inevitável, os pequenos agricultores e os indígenas locais haviam encontrado um caminho para a paz. Juntos, eles firmaram um "termo de acordo" para uma conciliação.
O dia 11 de novembro de 2021 foi celebrado como uma data histórica para as comunidades. Nesse dia, indígenas e agricultores, lado a lado, demarcaram uma linha divisória — "tiraram o picadão" —, provando que a convivência pacífica era uma solução viável e acordada por todos.
Um dos agricultores resumiu a aliança e a sensação de que ambos os grupos eram vítimas em um jogo maior:
"Presta atenção nesse documento que nós não temos divisões entre nós e os índios. Os índios são parceiro nosso, é companheiro. Os índios são vítima e piores que nós. Eles usam os índios para nos prejudicar, para manter os índios no cativeiro."
Para esses produtores, a lógica é clara: os indígenas se tornaram "a galinha dos ovos de ouro" para ONGs e interesses internacionais, uma justificativa para ações que, no fim, não beneficiam nem uns, nem outros.
3. A terra não foi "devolvida": após a expulsão, ela ficou abandonada.
A justificativa para a remoção forçada de centenas de famílias era devolver a terra aos povos originários. Mas o que aconteceu depois que as casas foram queimadas e as plantações destruídas? Dois anos depois, a resposta é: nada.
Sobrevoos na região mostram uma verdade chocante: a área de extensão da terra indígena não foi ocupada. Nenhuma nova aldeia foi construída no local. Os indígenas permaneceram em sua área original, na "região do picadão".
O cenário deixado para trás é de desolação. Casas, currais e milhares de pés de cacau cortados pela FUNAI em uma terra que antes era produtiva e que agora está simplesmente vazia. Isso levanta uma questão fundamental sobre o verdadeiro propósito daquela violenta operação de "desintrusão".
4. A "ajuda" internacional para a Amazônia pode ser uma forma de terceirizar o custo ambiental.
O debate sobre a Amazônia está conectado a uma complexa geopolítica ambiental. O Fundo Amazônia, por exemplo, revela uma hipocrisia gritante. Países como a Alemanha, que continuam queimando carvão mineral para gerar energia, doam grandes quantias para a conservação no Brasil.
A mecânica por trás disso é um tipo de indulgência climática: para cada milhão de dólares doado, esses países recebem um "certificado de quitação" de suas próprias emissões de CO2. Em outras palavras, eles estão cometendo seus pecados ambientais lá e recebendo o perdão aqui.
Na prática, eles continuam poluindo e mantendo seu modelo de desenvolvimento, enquanto o sacrifício para atingir as metas globais é pago por populações vulneráveis na Amazônia.
"Eles continuam a prosperar lá com o sacrifício do nosso povo brasileiro. E não tô falando do rico não, tá?"
5. Quando o ambientalismo esquece as pessoas, ele se torna desumano.
A operação na extensão Apyterewa é um exemplo trágico de uma visão de ambientalismo que ignora completamente o pilar "S" (Social) do ESG. O custo humano foi brutal e documentado.
Famílias receberam apenas cinco minutos para deixar suas casas antes que fossem queimadas. Mais de 10.000 cabeças de gado foram apreendidas e desapareceram. Animais foram deixados para morrer de fome, e há imagens de um boi morto com um tiro de fuzil da Força Nacional.
A tragédia pessoal se materializa na história de uma senhora que perdeu tudo. "Eu, deficiente desse jeito aqui, com as mãos desse jeito que eu não tenho mais saúde", conta ela, mostrando as mãos. Ela tirava R$ 3.000 por mês fazendo queijo e hoje vive em um "barraquinho". Essa abordagem, que trata pessoas como obstáculos, não pode ser chamada de conservação.
"Se isso é ser ambientalista, eu desafio os meus colegas biólogos (...) a olhar para isso aqui e jogar isso aqui embaixo do tapete e achar que isso é uma situação normal. Se esse é o ambientalismo, tô fora, papai."
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Conclusão: Quem Paga a Conta da Floresta em Pé?
A história por trás da expansão da terra Apyterewa revela que a narrativa sobre a Amazônia frequentemente apaga as complexas e dolorosas histórias humanas de seus habitantes. Ela mostra um conflito onde não há vencedores, apenas vítimas de uma política que parece valorizar mais as árvores do que as pessoas.
A verdadeira conservação, a única que pode se sustentar, se faz com gente. E gente de barriga cheia, com dignidade e oportunidade de prosperar.
Isso nos deixa com uma pergunta incômoda, que todos nós deveríamos fazer. Será que, para manter a floresta em pé para o mundo, precisamos colocar de joelhos o povo que vive nela?