COP 30 em Belém: O Contraste entre Discurso Climático e a Realidade da Infraestrutura e Logística

 


COP 30 em Belém: O Contraste entre Discurso Climático e a Realidade da Infraestrutura e Logística

A Cúpula Anual de Mudança do Clima, conhecida como COP, é um evento de destaque global, geralmente realizado em novembro ou dezembro, focado na discussão de políticas ambientais e acordos climáticos. A COP 30, que teve sua abertura oficial em Belém, no Pará, foi escolhida para simbolizar o protagonismo da Amazônia. Contudo, desde o seu anúncio e, especialmente, no início de suas atividades, o evento tem sido notavelmente marcado por escândalos, falhas de organização e um profundo contraste entre o discurso e a realidade logística e social.

Apesar de Belém ter sido a cidade escolhida para sediar o evento, expondo a relevância da Amazônia, ela enfrenta graves problemas de infraestrutura e logística. Embora bilhões tenham sido gastos na preparação da cidade, o início da conferência foi assolado por uma série de vexames e falhas operacionais:

  • Crises Operacionais: A crise na hospedagem e os preços exorbitantes foram notáveis. Houve ameaças do Comando Vermelho de paralisar a energia de Belém na véspera do evento. Uma van de uma delegação estrangeira foi incendiada, e dois jornalistas que cobriam a COP 30 foram assaltados.
  • Falta de Infraestrutura Básica: Acabou a comida, e visitantes tiveram que almoçar sorvete. A água dos banheiros também faltou. Em contrapartida, a água da chuva não faltou, alagando vários pontos do evento e transformando a sala de imprensa em uma piscina, necessitando de interdição.
  • O Escândalo dos Preços: A alimentação e a hidratação tornaram-se um problema financeiro em Belém, uma cidade naturalmente quente. Salgados como coxinhas e quiches custavam R$ 45. Uma garrafa d'água de 350 ml chegava a custar R$ 25 (pelo mesmo valor, seria possível comprar mais de 1 kg de peito de frango em um supermercado). Uma quiche pequena de espinafre com um refrigerante zero custou R$ 70, e o total da refeição de um visitante chegou a R$ 99.

O Contraste Entre o Luxo e a Precariedade Local

A insuficiência de leitos em Belém, que carece de infraestrutura hoteleira, já preocupava os organizadores muito antes do início do evento. Motéis foram transformados às pressas para acomodar delegações internacionais. Os preços de hospedagem dispararam, chegando a ser 15 vezes maiores que o valor de mercado, variando entre R$ 3.800 e R$ 11.000. O valor total cobrado para passar os 11 dias de evento em algumas unidades chegava a R$ 2,2 milhões. Esse escândalo de aluguéis motivou ameaças formais de desistência por parte de mais de 25 países, especialmente ilhas vulneráveis e nações africanas.

Como solução para a escassez de hospedagens, o governo federal contratou dois transatlânticos de luxo. As diárias nesses navios chegavam a R$ 48.000. Para receber estas embarcações, o governo investiu R$ 70 milhões em melhorias no porto de Outeiro, incluindo dragagem, reforço no cais e estrutura para desembarque.

Este investimento maciço contrasta drasticamente com a realidade das comunidades vizinhas. A Praia de Brasília, em Outeiro, nunca viu tanta movimentação devido à presença dos enormes "hotéis flutuantes". Moradores relataram insatisfação com os gastos milionários diante da precariedade das condições locais. A praia sofre com problemas de infraestrutura, lixo por todo canto, acessos inadequados e falta de acessibilidade. Há quem critique que o dinheiro gasto na estrutura para os cruzeiros poderia ter sido aplicado em benefícios para os moradores, como melhorias nas orlas e nas entradas e saídas das praias.

A pequena praia, em frente aos enormes navios de cruzeiro da COP 30, expõe a distância entre o discurso de inclusão da COP e a realidade brasileira.

A Hipocrisia Climática e as Contradições

O contraste entre discurso e realidade também se manifestou em relação ao tema central do evento: o clima.

  • O Paradoxo do Desmatamento: Houve uma acusação de que a Amazônia teria sido destruída para a construção de uma estrada de quatro faixas, feita para agradar ambientalistas, com a suposta derrubada de 100 mil árvores. Este caso expõe um paradoxo, levantando a questão de como justificar o desmatamento em áreas protegidas para viabilizar um evento cujo propósito é debater a preservação ambiental e soluções climáticas.
  • Foco em Combustíveis Fósseis: Em seu discurso de abertura, o presidente Lula classificou alguns líderes como negacionistas, defendendo que é preciso abandonar combustíveis fósseis, como gasolina e diesel. No entanto, seu próprio governo tem pressionado o IBAMA para a exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas. Além disso, a poucos metros da entrada do evento, caminhões-tanque carregavam milhares de litros de óleo diesel para abastecer os 160 geradores do pavilhão.
  • Hospedagem Presidencial: Lula, que havia dito que não seria a "COP do luxo" e que dormiria em um barco de pesca, na verdade ficou hospedado no imponente iate cinco estrelas Iana 3, que é de propriedade de um empresário envolvido em denúncias de crimes eleitorais. A embarcação de luxo gastará no mínimo 4.000 litros de óleo diesel durante a conferência, consumindo até 150 litros de combustível fóssil a cada hora. Lula teria considerado as instalações de um barco militar da Marinha inadequadas. Após a repercussão, a despesa com o iate tornou-se alvo de sigilo.
  • Decoração Irônica: Em uma cidade quente, em vez de paisagismo e reflorestamento para garantir sombra, o governo optou pela instalação de "árvores ecológicas," que são estruturas metálicas feitas de vergalhões que simulam vegetação com efeitos de luzes de LED.

O Discurso Político e o "Flop 30"

Lula utilizou seu discurso para classificar a COP 30 como a "COP da verdade na era da desinformação," impondo uma nova derrota aos negacionistas que rejeitam a ciência, controlam algoritmos e semeiam o ódio.

Apesar do tom combativo, a participação de chefes de estado e de governo foi a menor desde a COP 25 em Madrid, 2019. O evento foi apelidado de "Flop 30" devido às ausências mais notáveis, incluindo os presidentes das três nações líderes em emissões de gases e poluição: Estados Unidos, China e Índia.

Para a grande maioria da população brasileira, o assunto da COP é irrelevante ou desconhecido. Uma pesquisa apontou que 70% dos brasileiros não sabem do que se trata o evento, e mais da metade das pessoas ouvidas não sabia que a COP 30 seria sediada em Belém.

Em suma, a COP 30, que deveria ser um palco para soluções climáticas e ambientais, transformou-se em um espelho das profundas contradições logísticas, sociais e políticas do Brasil. A discrepância entre os valores milionários investidos em luxo e a precariedade da infraestrutura básica local, juntamente com o paradoxo do uso intenso de combustíveis fósseis em um evento destinado a combatê-los, levanta sérias dúvidas sobre a efetividade e a sinceridade do discurso ambiental global.


Para solidificar o entendimento: A situação da COP 30 em Belém pode ser comparada a um chef de cozinha renomado que promete um banquete sustentável e orgânico, mas serve pratos caríssimos em uma cozinha alagada, enquanto os ingredientes principais que ele condenou (combustíveis fósseis) estão sendo usados em segredo para manter o forno aceso, e a maioria dos convidados importantes decide não comparecer. O discurso é elevado, mas a experiência prática é marcada pelo caos e pela contradição.