Ascensão e Colapso da Oi: A Maior Falência

 


O Colapso de uma Gigante: Lições da Falência da Oi

A recente decretação da falência do Grupo Oi, pela sétima Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, encerra uma das mais longas e turbulentas tentativas de recuperação judicial da história corporativa brasileira. O que começou como o símbolo de modernização das telecomunicações no país transformou-se em um alerta sobre os perigos da ambição desmedida, da má gestão estratégica e da incapacidade de adaptação ao mercado.

A trajetória da Oi é descrita como uma verdadeira "montanha-russa corporativa". Nascida da privatização da Telebrás em 1998, a marca evoluiu da Telemar (criada em 2001 pela unificação de 16 operadoras de telefonia fixa) para se tornar a Oi, uma gigante que chegou a ter o maior valor de mercado da América Latina em 2002. A empresa era sinônimo de expansão e inovação, sendo a primeira operadora a lançar a tecnologia 3G no Brasil em 2008.

A Semeadura das Dívidas Bilionárias

Apesar do apogeu e de atingir uma receita anual impressionante (R$ 29 bilhões no início da década de 2010), a prosperidade da Oi era uma ilusão. Por trás da marca aparentemente inabalável, crescia um abismo financeiro, causado por decisões estratégicas que se revelaram "armadilhas financeiras".

Dois movimentos principais selaram o destino financeiro da companhia:

  1. A Compra da Brasil Telecom (2008): Embora a aquisição (por R$ 5,8 bilhões) tenha marcado a primeira vez que uma única operadora brasileira cobria todo o território nacional, ela veio acompanhada de uma dívida superior a R$ 3 bilhões. O que deveria ser um fortalecimento tornou-se um grande erro, acumulando dívidas de forma assustadora, que já ultrapassavam R$ 40 bilhões em 2013.
  2. A Fusão com a Portugal Telecom (2010): A fusão, que resultou na Corpico, tinha o objetivo de ampliar cobertura e expandir para novos mercados. Contudo, a Portugal Telecom injetou R$ 5 bilhões não em dinheiro, mas em ativos que incluíam R$ 3 bilhões aplicados em títulos de dívida da Rio Forte, uma subsidiária de um banco português. Quando a Rio Forte faliu, a Oi absorveu o prejuízo, fazendo suas dívidas dispararem ainda mais.

Além desses erros estratégicos, a Oi foi penalizada por multas milionárias da Anatel e, crucialmente, falhou em se adaptar à nova realidade do mercado. O declínio da telefonia fixa — o coração da Oi — devido ao avanço acelerado da telefonia móvel e dos smartphones, afetou drasticamente o faturamento, somado a uma gestão ineficiente.

A Luta por Sobrevivência e o Esgotamento de Ativos

O cenário de desespero financeiro levou a Oi a buscar proteção contra credores. Em 2016, a empresa ingressou em sua primeira recuperação judicial, uma das maiores da história do Brasil, com uma dívida que ultrapassava R$ 65 bilhões.

Para honrar os compromissos (com gigantes como o BNDES, Caixa Econômica, Banco do Brasil e The Bank of New York Melon), a estratégia central foi a venda massiva de ativos. O movimento mais significativo foi o leilão da Oi Móvel, arrematada pela Tim, Claro e Vivo por R$ 16,5 bilhões. A venda, aprovada em 2022 após dois anos de burocracia, permitiu à Oi quitar parte da dívida e encerrar temporariamente o processo de recuperação judicial.

A calmaria, contudo, foi breve. Apenas três meses depois, em março de 2023, a Oi entrou com um segundo pedido de recuperação judicial, ainda com uma dívida colossal de R$ 43 bilhões. Ficou evidente que a reestruturação não havia sido suficiente, e o caixa da empresa estava no limite.

A última estratégia de sobrevivência focou na fibra ótica e serviços digitais (Oi Soluções), visando atender órgãos públicos e empresas. No entanto, segundo a sentença judicial, a Oi passou os últimos anos dependendo da venda de ativos para manter o caixa, em vez de gerar receita a partir de sua atividade principal. A companhia sobreviveu "vendendo pedaços de si mesma até não restar mais nada a vender".

A Inevitabilidade do Colapso

Com uma dívida líquida de R$ 10 bilhões e apenas R$ 1 bilhão em caixa no primeiro semestre de 2025, a empresa estava insolvente. A juíza responsável determinou que a falência era inevitável, dada a queda na receita e a falta de capacidade de reestruturação. A decisão, decretada em 10 de novembro de 2025, suspendeu todas as ações contra a empresa e iniciou o processo formal de liquidação.

Para os acionistas e investidores, a falência representa um risco de perda total do investimento, já que eles se encontram no fim da fila de prioridade da lei de falências. Imediatamente após o anúncio, as ações da Oi despencaram drasticamente.

É importante notar que, apesar da falência, a justiça determinou a continuidade dos serviços essenciais. A Oi deve manter a telefonia fixa, redes de emergência, e sistemas de telecomunicações críticos usados por órgãos públicos, além de manter ativos 75.500 telefones públicos.

A história da Oi é, em última análise, uma tragédia corporativa que se baseou em dívidas. A empresa, que outrora parecia inabalável, não conseguiu traduzir sua ambição e crescimento em lucro líquido, sendo afundada por prejuízos bilionários contínuos, erros de aquisição e a implosão de seu mercado principal.

A falência da Oi serve como um espelho para o setor corporativo, ilustrando como a ambição descontrolada, financiada por endividamento excessivo (mais de R$ 55 bilhões em 2015), e a relutância em abandonar um modelo de negócios obsoleto podem levar até as maiores operadoras a um colapso irremediável. A Oi demonstrou que, não importa o quão grande seja a empresa, se ela se concentra em vender seus ativos para sobreviver em vez de gerar valor sustentável através de sua atividade principal, o fim é apenas uma questão de tempo.