Estudo sobre o livro de Atos: capítulo 22

 


A Defesa de Paulo – De Zeloso Perseguidor a Apóstolo dos Gentios (Atos 22)

O capítulo 22 do livro de Atos é um dos momentos mais dramáticos na jornada do apóstolo Paulo. Preso em Jerusalém e enfrentando uma multidão enfurecida que clamava por sua morte, Paulo aproveita a oportunidade para fazer uma defesa poderosa, transformando o palanque de sua acusação em um púlpito para seu testemunho.

A narrativa não é apenas um relato histórico de sua prisão; é a terceira vez no livro de Atos que Lucas registra a história da conversão de Paulo, destacando a importância central desse evento para a sua identidade e missão.

1. A Estratégia do Discurso

A primeira grande atitude de Paulo é estratégica: ele pede permissão ao comandante romano para falar ao povo e, ao começar, dirige-se a eles na língua hebraica (ou aramaica, a língua local), o que acalma a multidão e garante um silêncio total (Atos 22:2). Ele se identifica com seu público, mostrando que compartilha suas raízes e sua fé ancestral.

2. A Identidade Judaica Incontestável

Paulo, então, estabelece sua credibilidade como um judeu fervoroso:

  • Local de Nascimento e Criação: Nasceu em Tarso, na Cilícia, mas foi criado em Jerusalém.

  • Formação: Foi aluno do renomado Gamaliel, o grande mestre da Lei, o que demonstra sua educação rigorosa e profundo conhecimento das Escrituras.

  • Zelo pela Lei: Afirma ser “muito dedicado a Deus, como todos vocês aqui também são” (Atos 22:3), e lembra que perseguiu os seguidores de “Este Caminho” (como era chamado o cristianismo nascente) até a morte.

Com isso, ele silencia a acusação de ser um inimigo da tradição judaica: ele era, de fato, um de seus mais zelosos defensores no passado.

3. O Ponto de Virada: A Conversão

O cerne de sua defesa é o encontro com Jesus na estrada para Damasco. Ele descreve a grande luz que o cercou ao meio-dia e a voz que o interpelou: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?” (Atos 22:7). Ele enfatiza que seus companheiros viram a luz, mas não entenderam a voz (um detalhe que complementa a versão de Atos 9).

O próximo passo crucial é a menção de Ananias, um judeu “religioso, obedecia à nossa Lei” (Atos 22:12). Ao apresentar Ananias como um judeu respeitável em Damasco, Paulo desmistifica a ideia de que sua conversão foi obra de um grupo marginal, conectando-a a uma fonte judaica legítima e honrada. Foi Ananias quem o instruiu, batizou e profetizou que ele seria testemunha de Jesus.

4. O Fim do Discurso e a Revolta da Multidão

Paulo encerra seu testemunho contando uma visão que teve no Templo, onde Jesus o ordenou: “Vá, pois eu vou enviá-lo para bem longe; vou enviá-lo aos não judeus (Atos 22:21).

Este é o ponto de ruptura. Ao mencionar que sua missão era pregar aos gentios, a multidão explode em fúria novamente, gritando: “Matem esse homem! Ele não merece viver!” (Atos 22:22). Eles não toleravam a inclusão dos não-judeus no plano de Deus.

5. O Recurso à Cidadania Romana

O comandante romano, que não entendeu o discurso em hebraico, ordena que Paulo seja chicoteado para descobrir o motivo da acusação. É neste momento que Paulo usa seu trunfo: ele pergunta ao oficial: “Será que vocês têm o direito de chicotear um cidadão romano?” (Atos 22:25).

A cidadania romana garantia direitos legais, sendo a flagelação de um cidadão não condenado um crime grave. O comandante fica apavorado ao saber que estava prestes a chicotear um cidadão de nascimento, um status que ele próprio havia comprado por "muito dinheiro" (Atos 22:28).

O comandante, então, desamarra Paulo e, para entender a real acusação dos judeus, convoca o Conselho Superior (Sinédrio) para o dia seguinte. Assim, o discurso de defesa de Paulo não só salva-o da flagelação, mas também lhe garante a chance de testemunhar perante a mais alta corte religiosa judaica.


Link para o capítulo na Bíblia Online (NTLH):  Atos 22  

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