O palestrante explora o livro bíblico de Eclesiastes, contrastando sua perspectiva com a de filósofos pessimistas como Schopenhauer e Nietzsche. Ele argumenta que a busca humana por conhecimento, prazer e riqueza, embora satisfatória temporariamente, é inerentemente vã se não houver um propósito transcendente. A discussão destaca a natureza fugaz da vida e das conquistas materiais, utilizando metáforas como a efemeridade de um sopro para descrever a existência. No entanto, o orador introduz um ponto de divergência crucial, afirmando que a “eternidade no coração do homem”, mencionada em Eclesiastes, sugere uma sede inata por algo que realmente existe, ao contrário da visão utópica dos pessimistas ateus. Ele conclui que a fé em Deus oferece um significado duradouro e uma esperança além das limitações da vida terrena, transformando as alegrias e tristezas em uma "degustação" de algo infinitamente maior.
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1. O Pessimismo de Eclesiastes e Sua Similaridade com Filósofos Ateus
Rodrigo Silva inicia a pregação destacando a complexidade e o aparente pessimismo do livro de Eclesiastes. Ele cita passagens como Eclesiastes 1:2 ("Vaidade de vaidades, diz o pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade. Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, que se afadiga debaixo do sol?") e Eclesiastes 7:1 ("Melhor é a boa fama do que um unguento precioso; melhor é o dia da morte do que o dia do nascimento"). Essas frases, fora de contexto, podem parecer desanimadoras e contradizer a mentalidade de busca por sucesso e felicidade.
Silva traça um paralelo direto entre a mensagem inicial de Eclesiastes e as filosofias pessimistas de pensadores como Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzsche, além de outros como Kierkegaard, Fernando Pessoa, José Saramago e Clóvis de Barros. Ele categoriza esses filósofos como "trágicos" ou "ateus que são honestos com ateísmo deles a ponto de dizer não compensa o estilo de vida que nós temos."
Pontos de Convergência (Salomão e os Filósofos Pessimistas Ateus):
A Vida como Piada de Mau Gosto: Ambos os pontos de vista convergem na ideia de que, sem Deus, a vida é uma tragédia e "uma piada de mau gosto". Silva afirma: "eles admitiram em outras palavras que a vida é uma piada de mau gosto não existe Deus não existe céu não existe eternidade o que nós desejamos é uma utopia então não compensa ficar perdendo muito tempo com a vida eles se conscientizaram que a vida é uma tragédia".
Transitoriedade e Sofrimento: Schopenhauer, por exemplo, via a vida como "uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir" e que "viver é sofrer". Fernando Pessoa é citado: "nós somos todos cadáveres eh cadáveres adiados que procriam". Essa percepção da fugacidade da vida e do sofrimento inerente é central tanto em Eclesiastes quanto nas filosofias pessimistas.
A Morte como Destino Inevitável: A inevitabilidade da morte é um tema recorrente. A vida é vista como uma condenação, um "cadáver adiado que procria".
A Interpretação de "Vaidade" (Havel):
Silva aprofunda a compreensão da palavra hebraica "ravel" (traduzida como "vaidade" em Eclesiastes 1:2), explicando que significa "sopro, suspiro, névoa" – algo que passa rapidamente. "A vida é como se fosse um sopro um suspiro um sopro de sopro acabou isso que é a vida tudo passa tudo acaba".
2. Tentativas Humanas de Amenizar a Dor (e seu Fracasso)
Salomão, assim como a humanidade em geral, buscou aliviar o sofrimento e encontrar sentido em diversas áreas, mas, na perspectiva pessimista, todas se mostraram vãs.
Busca por Conhecimento:
Salomão dedicou-se intensamente ao estudo, buscando "esquadrinhar e informar-me com a sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu" (Eclesiastes 1:13). No entanto, ele concluiu que era um "enfadonho trabalho" e "correr atrás do vento".
Silva compara essa busca com a experiência de doutorados, onde quanto mais se aprende, mais se percebe a própria ignorância.
A consciência é vista como uma "doença" por Dostoiévski e pelos filósofos pessimistas, pois o conhecimento excessivo pode levar à angústia e à falta de segurança (cyberfobia, cybercondríacos). "Quanto mais sabemos menos seguros nos sentimos".
Schopenhauer argumentava: "Quanto mais claro é o conhecimento do homem quanto mais inteligente ele é mais sofrimento ele tem o homem que é dotado de gênio sofre mais do que todos."
Busca por Prazeres, Riqueza e Fama (Hedonismo):
Salomão também se entregou ao dinheiro, fama, mulheres e prazeres (Eclesiastes 2:18, 3:9, 5:10), mas aborreceu "todo o meu trabalho com que fatiguei debaixo do sol visto que o seu ganho eu havia de deixar a quem viesse depois de mim".
Schopenhauer comparou a riqueza à água do mar: "quanto mais bebemos mais sede temos".
A efemeridade das conquistas e da fama é ilustrada com exemplos de prêmios Nobel e Oscars, que caem no anonimato, em contraste com a memória afetiva de pessoas que marcaram a infância. "Os prêmios passam mas as pessoas que se importam comigo são as que ficam essas que permanecem".
3. A Diferença Crucial: A Eternidade no Coração do Homem
O ponto de divergência entre Salomão e os filósofos pessimistas ateus reside na resposta à "sede de eternidade" presente no coração humano.
A "Sede" pela Eternidade (Olam): Salomão conclui em Eclesiastes 3:11: "Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem". A palavra hebraica para eternidade é "olam".
A Visão Ateísta como Utopia: Os filósofos pessimistas ateus também perceberam essa sede, mas a interpretaram como uma "utopia", uma "sede inútil" por algo que não existe, já que negam a existência de Deus e, consequentemente, do céu e da eternidade. "a minha carência é uma carência por algo que não existe".
A Perspectiva Teísta de Salomão: Salomão, por outro lado, afirma que essa carência é por "algo que existe e faz mais sentido". Silva utiliza uma analogia biológica: tudo o que um organismo vivo precisa para sobreviver (vitamina C, oxigênio, afeto) existe em algum lugar. Da mesma forma, se o ser humano tem uma sede pela eternidade e por Deus, é porque Deus e a eternidade existem. "se eu tenho buraco é porque existe aquilo que preenche o buraco então existe um vazio conforma de Deus no coração do homem".
4. Estratégias de Lidar com o Pessimismo: Nietzsche vs. Schopenhauer vs. Salomão
Silva destaca as diferentes reações ao pessimismo:
Schopenhauer: Deprimido e triste, sem querer "graça com a vida".
Nietzsche: Apesar de pessimista, buscava a "embriaguez" através da arte, do hedonismo e da negação da sobriedade. "Não adianta viver, mas já que estamos aqui vamos tomar um trago." Ele via a arte como uma forma de "driblar a realidade da vida", um meio de "embriagar-se" e evitar pensar na vida. Silva sugere que o mundo moderno segue inconscientemente a filosofia de Nietzsche ao buscar distração constante e evitar o silêncio.
Salomão: Encontra um "motivo para viver" na existência de Deus. Para ele, o que há de bom na vida não é tudo, mas sim "apenas uma degustação" de algo infinitamente melhor no céu. Os momentos de tristeza são provisórios. "teme a Deus e guarda os seus mandamentos porque ele vai trazer o juízo."
5. A Metáfora do Pássaro e da Gaiola
Silva conclui com a metáfora dos pássaros e da gaiola, atribuída a Dostoiévski:
A Gaiola (Mundo Ateu): Representa as certezas, o método científico, o que é verificável. É um mundo onde "o universo é tudo que existe existiu e existirá", sem nada além. A vida é única e deve ser aproveitada, mas inevitavelmente terminará em sofrimento.
O Voo (Mundo de Salomão): Representa a fé e a busca pelo desconhecido, o abismo. O pássaro que segue Salomão "voa pela fé" porque "sabe que tem um céu esperando lá fora". A vontade de voar (sede pelo céu) não é utopia, mas uma realidade implantada pelo Criador.
Conclusão
Rodrigo Silva, embora reconheça a inteligência e a honestidade dos filósofos pessimistas ateus, prefere a sabedoria de Salomão. A mensagem central é que, enquanto o pessimismo ateu vê a vida como um ciclo finito de sofrimento e prazeres efêmeros, a perspectiva de Salomão, enraizada na crença em Deus e na eternidade, transforma a "vaidade de vaidades" em uma "degustação" de algo maior e duradouro. A fé em um Criador que colocou a sede pela eternidade no coração humano dá sentido e esperança à vida, mesmo diante de suas dificuldades.