A Denúncia Urgente de Felca: Um Olhar Aprofundado sobre a Adultização e Exploração Infantil nas Redes Sociais
Felipe Bressamin Pereira, conhecido como Felca, um influenciador digital natural de Londrina, Paraná, consolidou sua carreira no YouTube desde 2017 com vídeos de comédia e comentários sobre cultura pop, acumulando mais de 5 milhões de inscritos no YouTube e quase 15 milhões de seguidores no Instagram. Conhecido pelo seu tom irônico e auto depreciativo, Felca surpreendeu seu público ao abandonar temporariamente o humor para abordar temas sérios.
Em maio de 2023, Felca já havia começado a utilizar seu alcance para tratar de questões mais relevantes, como o vício em jogos de azar e a influência de apostas online. No entanto, foi com seu vídeo documental intitulado "Adultização", postado em 8 de agosto (última sexta-feira, conforme a fonte), que ele alcançou uma repercussão massiva. Mesmo sem uma miniatura ou título apelativo, o conteúdo rompeu a marca de 27 milhões de visualizações em apenas 4 dias, tornando-se o vídeo mais assistido de seu canal. Com um histórico pessoal de luta contra a ansiedade e a depressão, Felca assumiu uma postura investigativa, prometendo enfrentar as consequências de mexer nesse "vespeiro".
A Estrutura e os Pilares da Denúncia em "Adultização"
O vídeo "Adultização" foi estruturado como um dossiê, com Felca apresentando gravações, prints e trechos de investigações já em curso. Ele adota um formato de "funil", começando com abordagens mais leves e progredindo para a denúncia de crimes graves.
As denúncias são feitas em fases, abordando progressivamente a gravidade do problema:
1. Exposição por Likes e Monetização: Felca inicialmente aponta pais e responsáveis que submetem seus filhos a constrangimento e situações de perigo para ganhar visualizações e monetização online. Ele destaca que, na era digital, é fácil para qualquer pessoa "tirar um trocado na internet", o que leva a condutas extremas.
2. Adultização de Crianças: Em seguida, o documentário aborda a adultização, onde crianças são expostas a conteúdos e comportamentos de adultos. Isso inclui crianças ensinando sobre investimentos, discutindo política, e repetindo o vocabulário de influenciadores. Felca critica essa conduta, enfatizando que ela prepara o terreno para algo pior, pois muitos pais não percebem os riscos da exposição infantil nas redes sociais.
3. Sexualização e Exploração Infantil: A parte mais grave da denúncia explora como fotos e vídeos "inofensivos" de crianças (como na piscina ou praia) podem ser usados para alimentar perversões sexuais. Ele revela a existência de redes de abusadores que consomem e compartilham esse material em grupos online.
Casos Emblemáticos Expostos
Felca utilizou exemplos reais para ilustrar a gravidade da adultização e da exploração:
Bel para Meninas: Um dos exemplos iniciais citados foi o canal "Bel para Meninas", onde a mãe teria induzido a filha, desde pequena, a situações desconfortáveis e até enjoos para aumentar o engajamento. Bel Pêrz, hoje com 18 anos, defendeu seus pais, mas Felca questiona o trauma causado por essa exposição excessiva e a publicização da vida de uma criança.
Ítalo Santos e Camilinha: Felca destaca o caso do influenciador Ítalo Santos, cujo ponto central da polêmica é a sexualização de menores em um tipo de reality show chamado "Colônia de Férias com Ítalo Santos". Uma das protagonistas, Camilinha, começou a gravar vídeos com apenas 12 anos e, segundo a denúncia, passou por um processo de crescente sexualização, incluindo implante de silicone, shows com coreografias sexualizadas e festas com álcool na presença de adultos. Após a repercussão do vídeo, as contas de Ítalo e Camilinha no Instagram foram desativadas. O Ministério Público da Paraíba já investigava Ítalo por denúncias anônimas de exploração e aliciamento de menores e abuso sexual, e os pais dos menores envolvidos também estão sob investigação.
Caroline Drea: Felca aponta este como o caso mais grave. Caroline Drea começou a postar vídeos aos 11 anos, e aos 14, sua própria mãe teria produzido e vendido conteúdo sexualmente explícito dela em plataformas para maiores de 18 anos. Parte desse material vazou para fóruns de pedofilia. Pessoas próximas relataram que a adolescente foi afastada da mãe e está com a avó, e o caso segue sob investigação do conselho tutelar e do Ministério Público. Felca expressa profunda revolta com a ganância e corrupção que põem em risco a saúde de uma criança.
O Papel das Plataformas e o "Algoritmo P"
Uma das críticas centrais de Felca é o papel das plataformas digitais. Ele argumenta que elas possuem a tecnologia para coibir a circulação de material sensível, mas não agem na velocidade necessária, fazendo "vista grossa" e lucrando com a audiência gerada.
Para demonstrar isso na prática, Felca criou uma conta do zero e interagiu apenas com vídeos que mostravam crianças. Em pouco tempo, os algoritmos passaram a recomendar conteúdos que levavam a comunidades onde material sensível circulava. Ele chama isso de "Algoritmo P" (de pedófilo), um sistema de recomendação que entende vídeos de crianças expostas de forma sugestiva como tópicos de interesse, sem avaliar a ética e a moral.
Felca expõe os códigos que esses grupos utilizam para driblar a moderação das plataformas:
"Trade": Indica que o usuário possui material infantil e quer negociar em privado.
"Link in bio" e "gifts English": Termos usados para indicar que os perfis contêm links para grupos de Telegram onde conteúdos de pornografia infantil (referidos como "CP" - child porn) são postados sem moderação. Os "gifs" são mais difíceis de rastrear por sistemas automatizados do que dígitos.
Ele alerta os pais para procurarem esses termos nos comentários de vídeos de seus filhos, pois isso significa que estão sendo alvo de criminosos.
Repercussão e Mobilização Política
O vídeo de Felca sobre a adultização mobilizou milhões de brasileiros de diferentes campos políticos. Diversas figuras públicas se manifestaram:
Hugo Mota, presidente da Câmara dos Deputados, anunciou que pautaria projetos de lei para proteger crianças e adolescentes na internet.
Erica Hilton agradeceu ao YouTuber e reforçou a denúncia contra a exploração de menores na Polícia Federal.
Nicolas Ferreira apoiou Felca, pedindo que "Deus o abençoe nessa jornada".
Felipe Neto, que já foi investigado pelo Ministério Público, postou que o conteúdo precisa ser assistido por todos.
Guilherme Boulos, liderança de esquerda, utilizou suas redes para promover o vídeo e retomar o assunto da regulação das plataformas, embora internautas tenham lembrado que ele votou contra um projeto de lei que previa aumento da pena para crimes hediondos, incluindo estupro de vulnerável.
A denúncia ganhou força em meio a dados alarmantes: o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial de denúncias online de crimes na internet em 2024, e uma investigação global da revista Lancet revelou que uma em cada seis meninas no Brasil já sofreu algum tipo de abuso sexual entre 1990 e 2023.
A Perspectiva da Psicologia: Entrevista com Especialista
Felca aprofundou o debate com a participação de uma psicóloga especializada em casos de crianças, que ofereceu insights cruciais:
Impacto da Exposição Precoce: A exposição de crianças às redes sociais desde a infância pode afetar o desenvolvimento, dificultando a diferenciação entre o que é privado e público e influenciando a formação da identidade.
Idade Recomendada para Acesso à Internet:
Até 2 anos: Não recomendado nenhum tempo de tela.
De 2 a 5 anos: Máximo de uma hora por dia, com supervisão.
A partir de 5 anos: Máximo de duas horas, com supervisão.
Sexualização na Comunicação: A exploração da imagem e sexualidade de crianças e adolescentes de forma brusca rompe o desenvolvimento natural e pode levar a transtornos psiquiátricos, onde a pessoa busca identidade através da materialidade e da sexualidade, e não da essência.
Abuso por Familiares/Confiança: Quando o abusador é alguém da família ou de confiança, a criança fica confusa e insegura, pois é mais difícil reconhecer o abuso de alguém que também oferece afeto ou coisas positivas. Isso cria uma dificuldade de nomear e compreender a situação, gerando adultos inseguros no futuro.
O Papel dos Pais: A psicóloga enfatiza a importância da supervisão parental desde o início. Os pais devem controlar o tempo de tela e poder acessar as redes sociais dos filhos. Alertou que a prevenção é mais fácil do que remediar, e que o medo de restringir pode levar a consequências graves, como o filho se tornando vítima de pedófilos.
Consequências para Adultos Vítimas: Adultos que tiveram sua identidade formada pela mídia ou que sofreram abuso na infância podem ter um "self" (identidade) frágil e falso, buscando pertencimento através da exposição material e sexual.
Terapia e Recuperação: Nunca é tarde para buscar terapia após um abuso, mesmo que anos tenham se passado. Quanto antes a criança iniciar a psicoterapia, maiores as chances de se tornar um adulto saudável. A mensagem principal para as vítimas é: "A culpa não é sua. Eu estou aqui com você, e a gente vai cuidar disso."
Ações de Felca e Repercussões Pessoais
Felca afirmou ter feito uma denúncia formal à polícia com todo o material levantado, e o boletim de ocorrência foi exibido no vídeo. Ele também anunciou que toda a monetização do vídeo seria doada para instituições que ajudam crianças vítimas de abuso, e disponibilizou uma lista dessas instituições para doações.
A denúncia de Felca resultou na abertura de investigações contra Ítalo Santos e na remoção das redes sociais de Camilinha por decisão do Ministério Público. O caso de Caroline Drea também teve desdobramentos, com a adolescente sendo afastada da mãe e indo morar com a avó.
O influenciador também revelou que, após a denúncia, enfrentou acusações falsas. Ele processou mais de 200 pessoas por difamação e declarou que todo o valor ganho com os processos será doado para instituições de caridade, pois não quer lucrar com isso. Sua motivação, ele explicou, é o envolvimento emocional com o tema, pois conhece pessoalmente vítimas de abuso sexual e tem "completo asco por esse crime", que considera um dos mais hediondos. Ele enfatiza que vulgarizar a palavra "pedofilia" beneficia apenas os pedófilos, permitindo que se infiltrem.
Em suma, o documentário "Adultização" de Felca não apenas expôs uma realidade sombria e urgente de exploração e sexualização infantil nas redes, mas também mobilizou a sociedade e autoridades, gerando um debate necessário sobre a proteção de crianças e adolescentes no ambiente digital. Ele ressalta a importância da não exposição de crianças na internet, pois mesmo conteúdos inocentes podem ser distorcidos e utilizados por predadores.