Onde Está Deus Nas Tragédias? Uma Reflexão sobre Fé, Dor e Eternidade
A questão da presença de Deus em meio às tragédias é um dos temas mais sensíveis e desafiadores para a fé, levantando profundas interrogações sobre a justiça divina e o sofrimento humano. Recentemente, uma explosão em uma fábrica no Paraná, que ceifou a vida de várias pessoas, trouxe essa pergunta à tona de maneira pungente: funcionários estavam orando por proteção apenas dois minutos antes da tragédia, mas não foram salvos. Diante de eventos como este, a mente humana, especialmente a do crente, se debate: "Onde estava Deus? Por que Ele não interveio? Por que não fez nada?".
Essa angústia não é exclusiva dos nossos tempos. Desde os salmistas no Antigo Testamento até os dias de Jesus, a humanidade tem se confrontado com a dor, o luto e a aparente ausência divina em momentos cruciais.
As Promessas de Jesus e a Dureza da Realidade
Jesus, em seu Sermão da Montanha, ensinou sobre a oração com uma promessa clara: "Peçam e lhes será dado; busquem e acharão; batam e a porta lhes será aberta". Ele comparou a solicitude de Deus com a de pais terrenos, que, mesmo imperfeitos, sabem dar boas coisas aos seus filhos. Contudo, a realidade por vezes parece contradizer essa promessa. Na tragédia do Paraná, três funcionários sobreviveram por uma questão de segundos, enquanto outros, que também oravam, faleceram. Essa disparidade levanta a pergunta: por que Deus poupa alguns e não outros, mesmo quando todos buscam Sua proteção?.
A Bíblia nos convida a questionar e expressar nossa dor. O próprio Jesus, na cruz, clamou: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?". O Salmo 73, de Asafe, reflete sobre a prosperidade dos ímpios em contraste com o sofrimento dos justos, uma questão que também desafia nossa compreensão.
A Sensibilidade de Cristo e o Perigo do "Shadenfreude"
Ao invés de oferecer "verdades insensíveis" ou chavões religiosos prontos, Jesus nos ensina uma abordagem diferente em relação à dor. Ele, que era a Verdade encarnada, muitas vezes optou pelo silêncio ou pela compaixão. A história dos amigos de Jó serve como um alerta: eles não erraram por mentir, mas por falar verdades teológicas em um momento de dor, sem a devida sensibilidade, agravando o sofrimento de Jó.
Um conceito psicológico alemão, o "Shadenfreude" (alegria na desgraça), ajuda a explicar um comportamento humano perigoso diante da tragédia. Ele descreve a satisfação, muitas vezes mascarada de justiça, que surge quando interpretamos a desgraça alheia como resultado de falhas ou pecados, numa tentativa inconsciente de nos protegermos e nos sentirmos imunes àquela mesma desgraça. Jesus confrontou essa mentalidade ao mencionar a queda da torre de Siloé e os galileus mortos por Pilatos. Na cultura da época, tragédias eram frequentemente vistas como punição por pecados. Jesus, no entanto, questionou: "Vocês pensam que esses galileus eram mais pecadores... ou que os de Siloé eram mais culpados?". Ele alertou para que não usássemos a dor alheia para nos sentir superiores ou isentos.
A Bíblia, por outro lado, exorta à simpatia e à empatia, que significam "sentir junto" ou "sofrer com". Em Romanos 12, Paulo aconselha: "Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram". Essa é a verdadeira solidariedade cristã, que se manifesta não apenas na alegria, mas principalmente no compartilhamento do sofrimento.
A Perspectiva da Eternidade: O Alvo Final de Deus
Rodrigo Silva argumenta que Deus cumpre suas promessas, mas não necessariamente no nosso tempo ou da nossa maneira. Para Deus, esta vida terrena é provisória. Nossas maiores tragédias e dores de hoje, embora reais e intensas, serão vistas de uma perspectiva diferente na eternidade, assim como a dor de uma criança por um brinquedo quebrado é vista por um adulto.
As promessas de Deus para o Messias, por exemplo, não se cumpriram na crucifixão de Jesus, mas em sua ressurreição. Da mesma forma, aqueles que morreram na fábrica do Paraná, se fiéis, serão livrados do mal de uma vez por todas na ressurreição, recebendo um corpo glorificado, livre de sofrimento. A promessa bíblica de um novo céu e uma nova terra, onde "não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor" (Apocalipse 21:4), é o alvo final de Deus.
Deus não antecipa a eternidade para este mundo pecaminoso, pois seria como usar um "restauro provisório" para uma solução permanente. Os milagres de Jesus na Terra – como ressuscitar Lázaro ou curar leprosos – foram demonstrações de Seu poder, mas eram "restauros provisórios", pois essas pessoas eventualmente morreram de outras causas. Eles serviram para nos lembrar que Deus está presente, mas a solução definitiva virá com a eternidade.
Conclusão: Fé em Meio à Inexplicável
Mesmo quando não há explicações humanas, nenhuma lógica ou razoabilidade para a dor, a fé cristã nos convida a confiar que Deus ainda é Deus. Não é pecado chorar, gritar ou desabafar nossa dor – o próprio Jesus chorou e clamou. No entanto, essa dor não deve nos levar a perder a fé no plano maior de Deus.
A eternidade é o nosso verdadeiro alvo, e tudo o mais, por mais importante que pareça, é provisório. Em meio à dor, à desilusão e ao luto, somos chamados a ser solidários, a chorar com os que choram e a manter a confiança de que Deus, no seu tempo e à sua maneira, cumprirá todas as Suas promessas, nos livrando do mal de uma vez por todas.