O Brasil no Furacão Geopolítico: Tensão Internacional, "Caça às Bruxas" e a Batalha de Narrativas

 




O cenário político e econômico brasileiro se encontra em um ponto de inflexão, com novas nuvens negras se formando no horizonte do Brasil, conforme apontado por analistas. As recentes declarações de líderes internacionais e o andamento de processos judiciais internos convergem para um furacão geopolítico que expõe o Brasil a pressões sem precedentes, especialmente por parte dos Estados Unidos e de seus aliados ocidentais.

Escalada das Tensões com o Ocidente

A conversa internacional sobre o Brasil tem escalado consideravelmente, indo além de questões domésticas e se concentrando na posição do país na guerra da Ucrânia. O secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, deu um conselho direto ao presidente Lula: "telefone para o Putin e diga a ele que precisa levar as negociações de paz a sério porque, caso contrário, isso atingirá em cheio o Brasil, a Índia e a China". Essa declaração veio acompanhada da ameaça de sanções secundárias a países que continuam comprando da Rússia, especialmente petróleo.

Um senador republicano, Lindsey Graham, foi ainda mais incisivo, classificando o Brasil como um dos maiores financiadores da invasão russa na Ucrânia e alertando que o país "irá se machucar muito se continuar ajudando Putin e sua guerra". A lógica por trás dessas sanções, segundo Deltan Dallagnol, é sufocar a economia russa e cortar seus meios de financiamento da guerra.

Um levantamento da Gazeta do Povo revelou que o Brasil encerrou 2024 como o segundo maior comprador de diesel russo do mundo, atrás apenas da Turquia, com mais de 7 milhões de toneladas adquiridas, totalizando mais de 38 bilhões de reais. Houve um salto de 6.000% no volume de diesel importado da Rússia após o primeiro ano de guerra, de 100 mil toneladas para 6 milhões de toneladas, em uma "jogada oportunista de mercado" enquanto a Rússia estava sob embargo de outros países.

Ainda que países da OTAN como Turquia, Países Baixos e Alemanha também figurem entre os maiores importadores de produtos russos, o foco da pressão tem sido sobre China, Índia e Brasil. Guilherme Kilter sugere que essa mira específica nos três maiores países do BRICS visa não apenas apoiar a Ucrânia, mas também afetar o BRICS, especialmente a iniciativa de desdolarização.

O Papel do BRICS e a Desdolarização

A insatisfação dos Estados Unidos com o BRICS, e em particular com a liderança de Lula na iniciativa de desdolarizar o mundo e criar uma nova moeda, é um ponto central da tensão. Donald Trump já havia sinalizado descontentamento com o bloco e, segundo a opinião da maioria dos brasileiros em uma pesquisa Bloomberg, o principal motivo para as tarifas impostas ao Brasil seria a questão do BRICS e da nova moeda. O ex-presidente americano ameaçou taxar os países BRICS em mais de 10% adicionais caso insistam na ideia de uma moeda alternativa ao dólar.

Apesar do entusiasmo de Lula com a desdolarização, outros países do BRICS, como Índia e China, "mantêm conversas e diálogos de alto nível com os Estados Unidos para negociar tarifas mais favoráveis ou até uma isenção", enquanto Lula, segundo Deltan, "fica aí falando sozinho ao vento como lunático sobre abandonar o dólar". Júlia Luce corrobora que a "carta do Rio de Janeiro" produzida pelo BRICS expressou um "puro sentimento anti-americano" que repercutiu negativamente no exterior.

O Processo Contra Jair Bolsonaro: Uma "Caça às Bruxas"

Paralelamente à escalada geopolítica, Donald Trump tem se manifestado repetidamente sobre o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil. Trump classificou o processo como uma "caça às bruxas", afirmando que Bolsonaro é um "homem bom, honesto e que lutou muito pelo Brasil". Ele enfatizou que não tem uma relação de amizade próxima com Bolsonaro, mas o respeita como um "homem de negócios reconhecendo um outro homem de negócio" que soube negociar em prol de seu país.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a condenação de Bolsonaro a uma pena que pode chegar a 43 anos de prisão, sob a acusação principal de ter liderado uma organização criminosa que tentou dar um golpe de estado. A narrativa da PGR descreve um plano que teria começado em 2021, envolvendo a propagação de ataques ao sistema eletrônico de votação, questionamento da segurança das urnas, espionagem, e até a existência de minutas de decretos sobre anulação de eleição.

Contudo, a base argumentativa da PGR é vista com ceticismo. O documento de 517 páginas, segundo os analistas, apresenta uma "completa ausência de provas" e uma "força de barra absolutamente total". A acusação de que o 8 de janeiro foi "desejado e incentivado" e que as provas vinculam "subjetivamente" os acusados à cadeia causal dos atos, é criticada como o "crime do desejo" – uma tentativa de responsabilizar alguém pela atitude de outros sem vínculo direto. Deltan explica que a expressão "vínculo subjetivo" não é comumente usada no direito, e que a acusação de Bolsonaro ter criado um "ambiente favorável" para o 8 de janeiro é comparável a culpar criadores de videogames violentos por massacres na vida real.

Outro ponto de fragilidade reside na delação de Mauro Cid. Apesar de a PGR alegar que ele "contou meias verdades" e mentiras, desconsiderando partes de seu depoimento, a delação é mantida como base para a acusação. Há críticas de que Cid foi coagido e pressionado, e que sua delação deveria ser invalidada desde o princípio por atos ilícitos estatais, o que "derruba tudo que acontece para frente". A embaixada americana no Brasil, inclusive, republicou um posicionamento do Departamento de Estado chamando o STF de "Supremo Tribunal de Morais" e os ataques à liberdade de expressão e ao comércio dos EUA de "vergonhosos".

Respostas e Saídas para o Brasil

Diante desse cenário, a "guerra de narrativas" se intensifica. O governo Lula, por meio do Ministério das Relações Exteriores, rechaçou as declarações da embaixada americana, classificando-as como "nova intromissão indevida e inaceitável em assuntos de responsabilidade do poder judiciário brasileiro". Inicialmente, Lula chegou a mencionar a "lei da reciprocidade", ameaçando aumentar as taxas brasileiras em retaliação. No entanto, empresários brasileiros já desaconselharam essa rota, e o próprio Lula parece ter descartado a ideia, demonstrando que foi apenas uma "bravata".

As saídas propostas para o Brasil incluem:

   A Via Diplomática: A necessidade de o governo Lula "engolir o orgulho" e buscar uma negociação efetiva com Trump, oferecendo gestos como a anistia para os presos do 8 de janeiro ou a proteção da liberdade de expressão nas redes sociais. Guilherme Kilter compara a postura de Lula com a do presidente argentino Milei, que negociou um acordo de tarifa zero com Trump.
   Atuação do Congresso: O Congresso Nacional poderia avançar em medidas como a anistia para os "perseguidos", a resolução do problema da liberdade de expressão nas mídias sociais e a proteção do principal adversário político de Lula, Bolsonaro.
   O Papel de Bolsonaro: Embora difícil devido às restrições legais, a ideia de Bolsonaro intervir junto ao governo Trump para reverter as tarifas, em razão de sua "dedicação ao país".

A percepção é que Lula, ao invés de buscar soluções diplomáticas, tem conseguido "surfar nessa onda de que ele tá defendendo a soberania brasileira", desviando a responsabilidade pelas tarifas para Bolsonaro e recuperando popularidade. Contudo, a população brasileira, especialmente os setores econômicos, será diretamente afetada pela eventual aplicação das tarifas, com pressão inflacionária e problemas econômicos.

Em última análise, o Brasil se encontra em uma encruzilhada complexa, com tensões internacionais em escalada e um cenário político interno polarizado. A forma como o governo brasileiro irá gerenciar essas pressões externas e internas definirá o futuro econômico e democrático do país.
Tags