A Última Páscoa e a Traição: Uma Análise de Lucas 22
O capítulo 22 do Evangelho de Lucas é um divisor de águas na narrativa da vida de Jesus, marcando os eventos que antecedem diretamente Sua crucificação. É um capítulo carregado de simbolismo, traição e o estabelecimento de novos pactos, culminando na prisão de Jesus.
A Conspiração e a Ceia da Páscoa (Lucas 22:1-23)
O capítulo começa com a crescente conspiração dos chefes dos sacerdotes e mestres da lei para matar Jesus (Lucas 22:1-2). Eles buscavam uma maneira de fazer isso sem causar um tumulto entre o povo. É nesse cenário que Satanás entra em Judas Iscariotes (Lucas 22:3), um dos doze discípulos, que então vai aos chefes dos sacerdotes e oficiais da guarda do templo para discutir como entregaria Jesus (Lucas 22:4). Eles ficam satisfeitos e concordam em pagá-lo (Lucas 22:5-6).
Aproxima-se a Festa dos Pães Asmos, que é a Páscoa, e Jesus instrui Pedro e João a irem preparar o local para a Ceia Pascal (Lucas 22:7-13). Ele lhes dá instruções detalhadas sobre um homem que os encontraria e os levaria ao cenáculo.
Durante a ceia, Jesus expressa Seu profundo desejo de comer aquela Páscoa com Seus discípulos antes de sofrer (Lucas 22:14-15). Em um momento de profunda significância, Ele toma o pão, dá graças, parte-o e o dá a eles, dizendo: "Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim" (Lucas 22:19). Da mesma forma, Ele toma o cálice depois da ceia, dizendo: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês" (Lucas 22:20). Este é o momento da instituição da Ceia do Senhor, um memorial duradouro de Seu sacrifício.
Imediatamente após este ato solene, Jesus revela a presença do traidor: "Contudo, a mão daquele que vai me trair está com a minha sobre a mesa" (Lucas 22:21). Os discípulos, então, começam a perguntar uns aos outros quem seria capaz de tal ato (Lucas 22:23).
A Discussão sobre a Grandeza e a Profecia da Negação de Pedro (Lucas 22:24-38)
Após a instituição da Ceia, surge uma discussão entre os discípulos sobre qual deles seria considerado o maior (Lucas 22:24). Jesus aproveita a oportunidade para ensinar sobre a verdadeira liderança e serviço, contrastando o modelo do mundo com o do Reino de Deus: "Os reis das nações as dominam, e os que exercem autoridade sobre elas são chamados benfeitores. Mas vocês não serão assim.
Em um momento de ternura e advertência, Jesus se volta para Pedro e prediz sua negação: "Simão, Simão, eis que Satanás pediu para peneirá-los como trigo. Mas eu orei por você, para que a sua fé não desfaleça. E quando você se converter, fortaleça os seus irmãos"
Jesus também lembra os discípulos de quando os enviou sem bolsa, mochila ou sandálias, e eles não lhes faltou nada. Agora, no entanto, a situação seria diferente, e Ele os instrui a se prepararem para tempos difíceis, chegando a dizer: "E aquele que não tem espada, venda a sua capa e compre uma" (Lucas 22:36), uma metáfora para a necessidade de prontidão em face da adversidade.
O Getsêmani e a Prisão de Jesus (Lucas 22:39-53)
Jesus segue com Seus discípulos para o Monte das Oliveiras, um lugar onde costumava orar (Lucas 22:39). No Getsêmani, Ele os instrui a orar para que não caiam em tentação (Lucas 22:40). Ele então se afasta e, de joelhos, ora intensamente, expressando a angústia de Sua alma diante da taça de sofrimento que O aguardava: "Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua" (Lucas 22:42). A agonia é tão profunda que Seu suor se torna como gotas de sangue caindo no chão (Lucas 22:44). Um anjo do céu aparece para fortalecê-Lo (Lucas 22:43). Ao retornar aos discípulos, encontra-os dormindo de tristeza e os admoesta por não conseguirem vigiar e orar (Lucas 22:45-46).
Enquanto Jesus ainda fala, Judas chega com uma multidão liderada pelos chefes dos sacerdotes, oficiais da guarda do templo e anciãos (Lucas 22:47). O sinal da traição é um beijo (Lucas 22:48). Quando a prisão se inicia, um dos discípulos (posteriormente identificado como Pedro em João 18:10) ataca o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita (Lucas 22:49-50). Jesus, no entanto, repreende a ação, dizendo: "Basta!" e toca na orelha do homem, curando-o (Lucas 22:51).
Jesus então questiona a multidão que veio prendê-Lo com espadas e varas, como se fosse um salteador, lembrando-os que Ele estava diariamente no Templo e não O prenderam lá. Ele conclui com uma declaração profética: "Mas esta é a hora de vocês e o domínio das trevas" (Lucas 22:52-53).
A Negação de Pedro e o Julgamento (Lucas 22:54-71)
Após a prisão, Jesus é levado à casa do sumo sacerdote. Pedro segue de longe e se senta junto ao fogo com os criados. Ali, três vezes, ele é questionado sobre ser um dos seguidores de Jesus e, três vezes, ele nega conhecer Jesus (Lucas 22:54-60). Imediatamente após a terceira negação, o galo canta, e Jesus se vira e olha para Pedro. Pedro, lembrando-se das palavras de Jesus, sai e chora amargamente (Lucas 22:61-62).
Os homens que guardavam Jesus começam a zombar e a espancá-Lo, vendando-o e pedindo que Ele profetizasse quem O havia atingido (Lucas 22:63-65). Ao amanhecer, o conselho dos anciãos do povo, tanto chefes dos sacerdotes quanto mestres da lei, se reúne para julgar Jesus. Eles o questionam: "Se tu és o Cristo, diz-nos" (Lucas 22:67). Jesus responde que mesmo que lhes diga, não acreditarão, e se lhes fizer uma pergunta, não O responderão (Lucas 22:67-68).
Ele então faz uma declaração poderosa: "De agora em diante o Filho do Homem estará sentado à direita do Poderoso Deus" (Lucas 22:69). Todos perguntam: "Então tu és o Filho de Deus?". Jesus responde: "Vocês estão dizendo que eu sou" (Lucas 22:70). Consideram isso blasfêmia e concluem que não precisam de mais testemunhas (Lucas 22:71).
Lucas 22 é, portanto, um capítulo de transição, da vida pública de Jesus para Sua paixão. Ele estabelece a nova aliança, revela a profundidade da traição humana e a intensidade do sofrimento de Jesus, enquanto também prenuncia Sua exaltação à direita de Deus.
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